Os efeitos do coronavírus no panorama político mundial
Em dezembro de 2019, uma das cinquenta maiores cidades do planeta assistia seu mercado de peixes e frutos do mar ser fechado devido à alta incidência de casos de pneumonia grave naqueles que frequentavam o local. A cidade é Wuhan, na China, e essa história tem sido contada à exaustão pelos noticiários globais, em meio à disseminação do novo agente viral (Sars-Cov-2), pertencente ao agrupamento coronavírus, que causa a mencionada infecção pulmonar.
A facilidade de transmissão e periculosidade da doença infecciosa causada pelo vírus, a COVID-19, fizeram com que a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarasse estado de pandemia, em 11 de março de 2020, e que o cenário de fechamento comercial de Wuhan se repetisse em amplitude transnacional. Desde que o vírus começou a ser monitorado na cidade chinesa até o 26 de junho de 2020, data da conclusão desta reportagem, mais de 9 milhões de pessoas foram infectadas com a COVID-19 e cerca de 400 mil morreram em decorrência da doença. Conforme o agente infeccioso se espalhava, diversos países decretavam estado de quarentena, isolamento social, paralisação das atividades de comércio e indústria não essencial e, em alguns casos, lockdown.
Assim como quando entra no corpo humano o vírus não restringe sua ação em uma célula, as consequências da disseminação do agente viral não se restringiram apenas ao setor de saúde no corpo social. Com a necessidade de isolamento, setores como a economia, a educação e a cultura também foram afetados por esta crise que está sendo chamada de maior recessão da história. Nesse contexto, o panorama político tem recebido destaque, desde a abordagem realizada pela imprensa até os debates que exploram o tema na mídias sociais.
A menção à esfera política tem ocorrido segundo o modo com o qual os líderes estatais desempenham sua função na gestão da crise. Alguns desses líderes adotaram iniciativas com o propósito de conter a disseminação do agente viral antes mesmo que a OMS se manifestasse, outros fecharam os olhos às proporções que a epidemia tomava. Em ambos cenários, os posicionamentos dos mandatários se refletiram na amplitude de suas bases de apoio e nas configurações assumidas pelos campos políticos em que atuam, em consequência da pandemia.
O mapa abaixo exibe alguns dos países em que as estratégias dos líderes estatais se diferenciam pela eficiência ou pela sua ausência na contenção do vírus, sendo os coloridos de vermelho lugares em que os líderes do executivo perderam apoio e os de verde lugares em que houve ganho de apoio.
ÁSIA
Os primeiros casos de COVID-19 foram registrados na China e depois alcançaram amplitude continental abalando as estruturas sociais asiáticas principalmente durante os três primeiros meses de 2020. De forma geral, os países asiáticos tiveram resposta rápida para a contenção do vírus, tendo na tecnologia um dos diferenciais na gestão da crise sanitária.
EUROPA
O continente europeu foi o segundo, na escalada do agente viral, a registrar dados alarmantes sobre as proporções alcançadas pela disseminação do coronavírus. Em março, a Itália foi o primeiro país a apresentar um número de mortos maior do que o registrado na China. O Reino Unido e Rússia, porém, superaram rapidamente os registros italianos. Em todo continente, medidas de restrição têm sido tomadas em diferentes amplitudes e destaca-se o uso de um aplicativo de rastreamento de contaminados que tem suscitado debates acerca da extensão da privacidade virtual em tempos de crise.
ORIENTE MÉDIO
A proximidade com o continente asiático fez do Oriente Médio uma das primeiras rotas de escoamento do agente viral. A ação autoritária dos governos da região e a postergação na tomada de iniciativas de contenção são as manchetes sobre a região mais vistas na imprensa mundial.
ÁFRICA
Os altos níveis de desigualdade social e de pobreza no continente são os principais agravantes ressaltados pelos líderes dos países africanos que lidam com a epidemia e com a falta de recursos para superá-la.
OCEANIA
Os líderes dos países da Oceania têm sido mencionados pela mídia internacional como exemplos de desempenho eficaz no combate à disseminação da COVID-19. Em especial a Nova Zelândia recebe destaque por ter sido o primeiro país do mundo a zerar o número de contaminados.
AMÉRICA
O continente que pensava estar livre da crise sanitária foi o último a apresentar infectados com o agente viral. Entretanto, com a os países integrantes do bloco são os que apresentam os maiores registros de contaminados e mortos em decorrência da COVID-19.
Enquanto isso, no Brasil …
Em meio à crise sanitária mundial, a gestão brasileira tem se destacado por ser alvo de críticas negativas de ordem nacional e internacional. No panorama exterior, além de constantes críticas da imprensa, o governo de Jair Bolsonaro tem sido mencionado como exemplo de ineficácia no combate à disseminação do coronavírus. O próprio presidente estadunidense Donald Trump, que comanda o país com maior registro de casos de COVID-19, se referiu à situação brasileira, em coletiva de imprensa, dizendo que “se você olha para o Brasil, eles estão num momento bem difícil […] se tivéssemos agido assim, teríamos perdido 1 milhão, 1,5 milhão, talvez 2,5 milhões ou até mais”.
Em território nacional, Bolsonaro é criticado por grande parte da imprensa, da classe política e da esfera pública, tendo perdido 20% daqueles que o apoiavam ou eram neutros sobre sua gestão e ganhado 17% de reprovação desde o início da pandemia em março, totalizando 58% de reprovação, de acordo com a pesquisa formulada pela agência Atlas Político e publicada pelo jornal El País. Até mesmo o filósofo Olavo de Carvalho, tido como guru do movimento bolsonarista, criticou o desempenho presidencial em uma live, afirmando a Bolsonaro “se as pessoas não conseguem derrubar o seu governo, eu derrubo. Continue inativo, continue covarde, eu derrubo essa mxxxx desse seu governo”.
Para Rodrigo Duarte Fernandes dos Passos, doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo, é difícil prever as sequelas que a crise deixará ao Governo Bolsonaro, porque a atual conjuntura governista é produto de um processo histórico anterior.
“Nós não estamos apenas lidando com uma crise política, institucional sanitária, econômica, é uma crise civilizacional porque acima de tudo está salvar vidas e avaliar a postura a ser tomada na medida em que dá importância ou não a preservação de vidas humanas. O fazer político bolsonarista pelas próprias falas do mandatário, nada tem a ver com isso, e ele várias vezes em diferentes discursos mencionou que existe um número demasiado de pobres no país que demandam muito custo do Estado e que sua posição não tem que ser para minimizar esse sofrimento, essa condição de uma parcela significativa da população” afirma Passos.
Até o fechamento desta reportagem, o Brasil contabilizava 55.054 mortos e 1.233.147 infectados, o aumento de 10% na dívida pública e a retração econômica de 1,95%.
Mais sobre o início da pandemia do coronavírus no vídeo abaixo.
Serviço
Para atualização diária sobre o número de casos de coronavírus no Brasil e no mundo, acesse: worldometers.info/coronavirus/coronavirus-cases/