Escreva para pesquisar

Mercado audiovisual, questão de interesse público e democracia

Compartilhe

Fica cada vez mais claro o poder que a indústria cultural de comunicações e entretenimento tem sobre a economia de uma nação

Por Rodrigo Berni

O cinema não tardou a chegar no Brasil. Dois anos após a primeira exibição cinematográfica realizada pelos irmãos Lumiére na Paris de 1895, era inaugurada no Rio de Janeiro de 1897 a primeira sala de cinema brasileira, chamada Salão de Novidades Paris. As primeiras imagens capturadas pela invenção dos dois engenhosos irmãos, o cinematógrafo, eram de atividades comuns do cotidiano da burguesia que ascendera economicamente e politicamente na Europa. Nada poderia ser mais instigante para a elite brasileira da época do que ver projetada na tela a realidade social e cultural que tanto almejavam.

800px-Afonso_Segreto

Affonso Segretto junto aos primeiros cinematógrafos usados no Brasil, trazidos por seu irmão Pascoal Segretto, na época um conhecido empresário ítalo-brasileiro

O cinema no Brasil já chega como uma atividade cultural elitizada. Nos outros países não foi diferente, a 7ª arte exige altos custos para ser produzida e também para ser veiculada; distribuída por emissoras de televisão e exibida em salas de cinema. Contudo, ao observarmos a indústria do audiovisual em países como os Estados Unidos e europeus, sobressaem algumas diferenças no conduzir desse mercado.

A princípio nota-se o uso econômico que esses países fazem das atividades culturais. Enquanto no Brasi o setor de comunicações passou a representar 3,15% do PIB só em 2014, segundo Canclini e Moneta, em pesquisa de 1999 a atividade cultural de informação e entretenimento em países europeus já chegava a representar 3% do PIB; nos EUA, principalmente a produção e exportação de audiovisual, chegava a 6% do PIB e empregava 1,3 milhão de pessoas.

Tais fatos decorrem de políticas públicas que atingem diretamente a cadeia produtiva como também apresentam o caráter protecionista da produção audiovisual nacional. Não só o Estado regulamenta o fomento às produtoras como garante a circulação dos produtos nacionais nas salas de cinema e canais de televisão do país. Isso é feito de forma híbrida, de maneira que boa parte do mercado audiovisual, a que representa a maior fatia da remessa de lucro, está no molde liberal. Porém, como se observa nos EUA, a rede pública de comunicação Public Broadcasting Service (PBS), que recebe investimento em suas produções como nos direitos de exibição na rede nacional de televisão, possuí alto índice de audiência e predominam os programas educacionais, de forma a promover a cidadania e consciência social dos norte-americanos.

Uma indústria audiovisual autossustentável no Brasil é inimaginável, por agora. Mesmo as majors do mercado, como a Globo, recorrem a incentivos do governo por renúncia fiscal, como a Lei Rouanet, de 1991. Contudo, o Brasil ainda tem uma outra meta a atingir para que a indústria audiovisual nacional se torne mais sólida. A pluralidade estética e ideológica é demasiadamente fraca. E aí entra-se em um outro âmbito, que é a democratização da informação a fim de promover a diversidade de identidades culturais representadas na mídia.

Segundo Sumário Executivo Ancine de 2004, apenas 13 empresas produtoras de um total de 144 responderam por 43,2% do público que acorreu às salas de cinema no período de 1995 a 2004. Em relação às distribuidoras, a concentração é ainda maior: 14 das 35 respondem por 91,1% desse público. Apesar de não constarem dados relativos nos mais recentes sumários executivos da Ancine, tais dados são resistentes a mudanças radicais uma vez que o setor de distribuição e exibição se encontra inteiramente no molde liberal, relegado às poucas majors. É aí que mora o vício do mercado audiovisual nacional.

Renato Ortiz em A Moderna Tradição Brasileira, de 2001, aponta o molde elitista em que os meios de comunicação de massa foram se modernizando. O cinema surgiu no país através da e para a elite. A pesquisadora Lia Bahia Cesário, mestranda em Comunicação Social na linha de Análise de Imagem e Som pela Universidade Federal Fluminense (UFF), aponta a importância da relação entre distribuidores e exibidores em conduzir o mercado audiovisual. Em sua visão, é esse setor que vai influenciar nas produções as questões estéticas e ideológicas, uma vez que produtos que não seguem essa linha no mercado recebem pouco ou nenhum espaço de exibição.

A partir deste ponto de vista, nota-se a importância em ampliar a área de atuação das políticas públicas a fim de proteger o mercado nacional audiovisual e promover uma maior visibilidade de identidades culturais nas mídias televisa e cinematográfica. Nossas salas de cinema são repletas de filmes estrangeiros justamente porque o poder econômico das distribuidoras internacionais é muito superior ao das nacionais, sendo impossível a “livre competição”. Concomitante a isso, temos a homogeneização dos conteúdos provocada pelo jogo de interesses das maiores distribuidoras e exibidoras nacionais. Pode-se dizer que o mercado audiovisual brasileiro opera de maneira democrática?

Em 2011 foi criada a Lei da TV Paga. A iniciativa segue no sentido de ampliar a exibição de produtos audiovisuais brasileiros na televisão, garantindo 30% do tempo de programação das emissoras instaladas no país ao conteúdo de produtores nacionais independentes. Contudo, quando pensamos no que ocorre com a TV Cultura, uma das principais emissoras públicas do país e forte promotora de programas educacionais, não vemos as políticas públicas indo na contramão da democratização da informação? Democratização essa que não viria acompanhada da maior pluralidade de produtos audiovisuais e maior representação de identidades culturais na mídia? Segundo matéria publicada pela Carta Capital no último dia 7, nos últimos anos, na Fundação Padre Anchieta, houve corte de funcionários, de programação e do sinal de emissão para 30 milhões de telespectadores. O cenário é de sucateamento, visto que uma das maiores produtoras de conteúdo educacional e promotora de cidadania no país foi forçada a terceirizar boa parte de sua programação.

E o interesse público envolvido no conteúdo dos programas audiovisuais, fica a cargo de quem? O Brasil inteiro tem necessidade de uma multiplicidade de imagens das suas diversas facetas culturais. As imagens, as histórias, não podem ser relegadas a um monopólio.

Tags::
Redação

Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit. Nam quis venenatis ligula, a venenatis ex. In ut ante vel eros rhoncus sollicitudin. Quisque tristique odio ipsum, id accumsan nisi faucibus at. Suspendisse fermentum, felis sed suscipit aliquet, quam massa aliquam nibh, vitae cursus magna metus a odio. Vestibulum convallis cursus leo, non dictum ipsum condimentum et. Duis rutrum felis nec faucibus feugiat. Nam dapibus quam magna, vel blandit purus dapibus in. Donec consequat eleifend porta. Etiam suscipit dolor non leo ullamcorper elementum. Orci varius natoque penatibus et magnis dis parturient montes, nascetur ridiculus mus. Mauris imperdiet arcu lacus, sit amet congue enim finibus eu. Morbi pharetra sodales maximus. Integer vitae risus vitae arcu mattis varius. Pellentesque massa nisl, blandit non leo eu, molestie auctor sapien.

    1

Você pode gostar também

Deixe um comentário

Your email address will not be published. Required fields are marked *