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Mudanças e retomadas

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O que mudou nos nossos hábitos durante a quarentena? 

Por Rafaela Martuscelli

Desde o final de 2019 sabíamos que algo grande, desconhecido e que ainda não sabíamos lidar estava chegando perto de nós. O medo da situação se tornar maior do que estávamos preparados para enfrentar tomou conta da realidade da maioria de nós — e mostrou que, de fato, não estávamos preparados. 

Como forma de se adaptar a uma nova rotina, fomos obrigados a mudar certos hábitos que antes faziam parte do nosso dia-a-dia e que sempre nos acompanharam historicamente. O modo como nos alimentamos, como nos exercitamos e, principalmente, os hábitos de higiene foram bruscamente alterados por uma pandemia. Em outros casos, hábitos que antes foram deixados de lado por falta de tempo, voltaram às nossas vidas. 

Após tantos meses presos dentro de casa e de tantas incertezas que criamos nesse período de quarentena, a única certeza que nos resta é que a saúde é primordial, principalmente agora. É necessário se atentar não somente à nossa saúde física como também mental.

No entanto, a principal medida de prevenção de contaminação contra à Covid-19 foi o isolamento social. Isso implicou no fechamento de muitos estabelecimentos, incluindo parques e academias. Os passeios e corridas pelas ruas passaram a ser controlados, de forma que o vírus não tivesse a chance de se espalhar mais ainda, e a obrigatoriedade da máscara também foi um fator que atrapalha o rendimento físico, já que muitos sentem falta de ar ao usá-la.

De primeira, não foi todo mundo que se adaptou e começou a se exercitar  dentro de casa.  De acordo com uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), entre as pessoas que faziam atividade física de três a quatro dias por semana, 46% deixaram de fazer; e entre as que realizavam cinco dias ou mais por semana, 33% deixaram de fazer atividade física durante a pandemia. 

A necessidade da criação de um novo hábito

Depois de meses dentro de casa e impossibilitada de fazer exercícios físicos em academias, como era acostumada a fazer, Fabiola Melo, estudante de Ciências Contábeis na Universidade Federal de São Paulo, sentiu a diferença nos exames. Após uma semana de stress no home office, somado à falta de exercício e má alimentação, Fabiola começou a ter problemas com a pressão alta.

Apesar de preferir fazer exercícios fora de casa, a estudante precisou tomar uma atitude: “foi aí que eu tive a ideia de começar o yoga. Eu vi várias pessoas no Instagram postando vídeo praticando yoga, até digitais influencers, e aí eu falei ‘tá bom’. Nunca tinha feito yoga, nunca tinha procurado aula, mas comecei a procurar no Google. Minha fonte de aprendizado foi o youtube.”, contou. 

O reflexo do aumento pela busca do termo, somada à perda de emprego por grande parte da população brasileira, teve como reflexo a diminuição na adesão às aulas com professores. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), o mais de 330 mil empregos foram perdidos no Brasil até o mês de maio. 

“A diminuição foi praticamente de 80% e isso estou falando por mim e por alguns colegas de profissão. A grande parte dos alunos, que faziam aulas presenciais, optaram por não fazer aulas on-line. Alguns perderam o emprego, outros tiveram uma redução de salário significativa, para priorizarem outras necessidades, o que eu considero normal, diante de tudo que estamos vivenciando neste momento”, explicou Érica Souza, professora de yoga.

Uma transformação para o on-line

Com a quarentena, a professora também teve que se adaptar. Por sempre preferir as aulas presenciais, Érica precisou aprender sobre plataformas digitais (como Zoom, Microsoft, Jtsi) para conseguir oferecer uma aula próxima às que eram dadas presencialmente: “é um formato de aula que até então não passava pela minha cabeça, até mesmo quando se tratava de cursos, sempre optei pelo presencial”, contou.

Outra questão foi como conseguir dar uma aula prática segura aos alunos, que, segundo a professora, era o que mais a preocupava nesse processo. “Confesso que a busca para melhorar e levar para os alunos algo mais perto do que tínhamos em aulas presenciais é uma constante”, comentou Érica. 

Segundo os dados do Google Trends, a pesquisa por tutoriais e aulas de yoga on-line aumentou desde o início da pandemia, na semana em que houve a primeira morte por Covid-19 no Brasil. A busca atingiu o seu pico máximo no dia 2 de maio, no meio do período da quarentena.

Gráfico de pesquisa sobre o termo “aula de yoga on-line”: cada 100 pontos no gráfico significa a sua popularidade máxima. (Foto: Google Trends)

Apesar de ter iniciado as aulas de yoga sozinha através de aplicativos, Fabiola pretende continuar a prática mas de maneira presencial: “eu faço aqui em casa do jeito que eu vejo na internet, mas mesmo assim eu não tenho certeza se estou fazendo certo. Depois da quarentena, algo que eu queria começar a fazer é a aula presencial de yoga. Assim que acabar vai ser difícil pelos horários, mas vou continuar fazendo em casa, assim como a leitura”, disse. 

Andrezza Marques, estudante de Jornalismo na Unesp Bauru, também optou por aplicativos que ensinam yoga após parar com as aulas de tecido acrobático em função da pandemia: “antes eu fazia tecido acrobático e tinha algumas coisas de yoga, a gente tinha que fazer bastante alongamento. Fiz só por dois meses, então não foi muita coisa. Yoga eu queria começar a fazer há algum tempo, já fiz uma aula experimental, mas criei o hábito na quarentena”, contou a estudante.

Andrezza praticando yoga em seu quintal pela manhã. (Foto: arquivo pessoal)

Além de ser usado para não deixar de praticar qualquer tipo de exercício físico, Andrezza também contou que o yoga tem ajudado durante o período de quarentena: “chegou um ponto da quarentena em que eu estava muito sedentária. Sinto que a yoga me deixa realmente me mais calma e me distrai, o momento de fazer yoga é o momento de fazer yoga”, disse. 

Os benefícios também puderam ser notados pelos professores de yoga. A professora Érica sempre recebe retorno dos seus alunos, que dizem que aulas os ajudam a relaxar, a melhorar dores de cabeça, a fazer meditação com mais frequência ou, até mesmo, controlar a ansiedade com a respiração. “Cada um se encontra na sua prática de forma muito particular e esses retornos são bem diversificados”, explicou a professora.

Assim como muitos hábitos, a yoga podem ser considerados grandes meios de se desligar por alguns instantes do mundo ao nosso redor. A professora Érica explicou que a prática da yoga pode diminuir drasticamente os níveis de stress e ansiedade: “através da prática de Yoga, podemos liberar as tensões causadas pelo stress através da atenção na respiração, da permanência nas posturas e na auto observação”, explicou. 

Fugir do real

A fuga da realidade também é um fator importante no momento em que se decide um novo hobbie ou uma nova prática nos dias atuais. Para evitar a enxurrada de notícias ruins que enfrentamos todos os dias, ter um escape é muito importante. É por isso que Fabiola, além de fazer yoga, também retomou o seu hábito de leitura. 

Por conta da rotina pré-pandemia, Fabiola conseguia manter a leitura, mas não como desejava. Durante a quarentena, ela viu a oportunidade de recomeçar a ler com mais frequência, do jeito que era acostumada. “Como meu estágio é de 6 horas por dia, o restante do meu tempo ficou ocioso e eu preenchi fazendo cursos, vendo séries e principalmente lendo”, disse.

A leitura não foge disso. O ato de ler uma outra história e imergir nela pode ser de grande ajuda para muitas pessoas, assim como é para Fabiola: “eu me desconecto completamente do que está passando ao meu redor, esqueço dos meus problemas e foco a minha mente completamente nas histórias. Essa foi a principal contribuição da leitura nessa quarentena, para mim”.

E depois?

Em um estudo feito pela Toluna, fornecedora líder de insights do consumidor sob demanda, a tendência é que o maior impacto foi na saúde, já que as pessoas têm se cuidado mais como prevenção à doença, assim como estão higienizando mais suas residências, pertences e compras do mercado. Melhorar a alimentação e realizar mais exercícios físicos também passou a ser uma preocupação da população. 

Ainda segundo a pesquisa, outra mudança significativa foi no home office. Prática que, no começo, foi considerada estranha pela maioria das pessoas, pode ter se tornado a opção favorita de quem começou a trabalhar assim. Das pessoas que estão trabalhando desta maneira, 67% diz que acredita que vão manter após a pandemia; na busca por novos conhecimentos, que é outra tendência, 63% pretendem continuar; na educação à distância são 62%.

Não sabemos por quanto tempo ainda teremos que esperar para que a nossa vida volte a ser como era antes — e talvez, a realidade nunca volte a ser a mesma. Fomos afetados por um novo momento que nos deixou de herança dezenas de novos hábitos em nossas vidas. O que nos resta é saber como aproveitá-los e como manter o resquício de quarentena que tem potencial de trazer coisas boas para o nosso dia-a-dia.

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Redação

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