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Pandemia impõe barreiras ao combate à violência doméstica

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Em Bauru, instituições públicas se desdobram para chegarem à mulheres em situação de violência durante a quarentena

Por Ana Letícia Fort

O estado de São Paulo registrou um aumento de 45% no número de chamadas sobre violência doméstica no “190” no mês de março desse ano em relação ao mesmo período em 2019. (Foto: Pixabay)

Em março deste ano foi decretada pela Prefeitura de Bauru a quarentena devido à pandemia de Coronavírus. Nesse mesmo mês, a cidade registrou um aumento de 14% nos boletins de ocorrência de violência doméstica em relação ao mesmo período no ano passado.

Na contramão desses dados, a Prefeitura Municipal divulgou, em nota, que o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) registrou uma queda de 73% no atendimento à vítimas de violência doméstica entre os meses de março e maio, em relação aos mesmos meses no ano passado. 

Esses números, de acordo com a Psicóloga do Centro de Referência de Atendimento à Mulher em Situação de Violência (CRM) de Bauru, podem indicar uma subnotificação dos casos. De acordo com ela, a diminuição nas denúncias “pode ser causadas pela dificuldade de sair de casa ou até por situações de cárcere.”

Ainda segundo a profissional, outro ponto que pode ter contribuído com esse cenário foi a suspensão das ações presenciais promovidas pelo CRM. “As ações ficaram suspensas devido à pandemia. Os atendimentos grupais e as palestras presenciais não estão acontecendo. E essas ações coletivas que chamavam casos novos. No final das palestras as mulheres nos procuravam para contar que conheciam alguém que passava por uma situação de violência e a gente recrutava esses casos”, explica Erika.

Os atendimentos do CREAS, entretanto, voltaram a subir no fim do mês de maio e Erika avalia que no mês de junho as entradas de novos casos já estabilizaram. Mas, para que isso acontecesse, o órgão teve que se adaptar à nova realidade imposta pela pandemia. “O CRM intensificou as divulgações na internet e começou a realizar palestras no formato de lives nas redes sociais”, conta a psicóloga. 

Além disso, Erika explica que o trabalho em conjunto com outras instituições responsáveis pelo combate à violência doméstica, como o Anexo da Mulher,  a Delegacia de Defesa da Mulher, o Serviço de Acolhimento Institucional e a Casa da Mulher, tem sido fundamental no combate a esse problema. 

“A eficácia para resolver os casos e proteger as mulheres tem a ver com intersetorialidade, que é o trabalho em rede. O problema da violência tem que passar pelas três esferas de poder. E é preciso ter essa capilaridade para que todas as mulheres tenham igualdade na hora de acessar e pedir ajuda”, analisa a profissional. 

Sinal de alerta

De acordo com uma nota técnica divulgada pelo Fórum de Segurança Pública, o “190” recebeu 9.817 chamadas de violência doméstica no mês de março deste ano no estado de São Paulo. Em 2019, foram 6.775 chamadas no mesmo período. 

Já o “Ligue 180”, que é a Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência, em 2020, teve um aumento de 27% no número de denúncias feitas entre março e abril em relação ao mesmo período do ano passado no país.

(Reprodução: Fórum de Segurança Pública)

O número de feminicídios também cresceu no Brasil. De 117 vítimas em março/abril de 2019, o número foi para 143 vítimas em março/abril de 2020. Um aumento de 22,2%.

Apesar desses números, o estado de São Paulo registrou uma queda de 18% no número de medidas protetivas pedidas e 3,7% a menos de medidas protetivas concedidas. Em Bauru, o número de pedidos de medidas protetivas caiu de 59 para 34 nos meses de março de 2019 e 2020, respectivamente.

Peça ajuda

É imprescindível que mulheres em situação de violência denunciem seus agressores e peçam auxílio das instituições responsáveis pelo combate à violência doméstica.

(Infográfico: Ana Letícia Fort)

Desde abril deste ano é possível registrar boletim de ocorrência de violência doméstica e familiar online por meio da Delegacia Eletrônica. O atendimento virtual ampliado da Polícia Civil do estado de São Paulo também permite solicitações de medidas protetivas sem sair de casa.

A ferramenta possibilita o envio de fotos do agressor, dos ferimentos causados por ele e de mensagens recebidas com ameaças. No site, foi disponibilizado um amplo manual com passo a passo para auxiliar a mulher na hora de fazer a denúncia.

Ações conjuntas

O projeto de extensão da Unesp  “Faces da Informação e Comunicação em Saúde” realiza uma pesquisa de opinião online durante os meses de junho e julho para levantar informações a respeito da violência doméstica na cidade. A iniciativa é uma parceria entre a Universidade e o Conselho Municipal de Políticas para Mulheres de Bauru.

“O questionário surge a partir de uma necessidade de mapearmos como está a situação da violência doméstica no período de isolamento social. Foi uma iniciativa do projeto que surge a partir de uma necessidade do Conselho de entender melhor o período pelo qual estamos passando”, explica Caroline Avelino, graduanda em Relações Públicas pela Unesp de Bauru e participante do projeto coordenado pela professora doutora Tamara Guaraldo.

Os dados ainda serão processados. Mas com dado preliminar, já é possível afirmar que pelo menos 85% das respondentes perceberam que a violência contra a mulher aumentou durante a pandemia, afirma Caroline. “Esperamos ajudar na formulação de políticas públicas contra a violência de gênero e na divulgação de informações que encorajem mulheres a denunciarem e fazer com que percebam que existe uma rede de apoio onde elas podem se sentir seguras e sãs”, finaliza.

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Redação

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