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Mesmo com menos pessoas do lado de dentro das porteiras, o agronegócio encontra no conhecimento a saída para produzir mais e, assim, atender cidades cada vez maiores

Por Leandro Gonçalves e Vinícios Rosa
Se você era um daqueles estudantes assíduos nas aulas de geografia, deve se lembrar do fenômeno Êxodo Rural. Potencializado pela crescente industrialização nas cidades, que é atrelada à mecanização do campo, o processo consiste, basicamente, na saída de pessoas da zona rural em busca de oportunidades de emprego e qualidade de vida nos centros urbanos. 
O crescimento populacional nas cidades demanda o aumento da produção de alimentos e insumos, como a soja, a carne, o papel, dentre outros produtos. Com isso, questiona-se como continuar produzindo com menos gente no campo e, considerando-se a preocupação com o meio ambiente, de que forma atender a demanda de maneira sustentável e com o bom uso de recursos naturais, incluindo a água e o solo.

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Com o crescimento demográfico e desenvolvimento das cidades, o agronegócio deve encontrar maneiras de continuar produzindo mesmo com menos gente no campo, tanto para atender as prateleiras dos supermercados quanto os contêineres de exportação (foto: Pexels)

Para encontrar respostas, é preciso entender a configuração populacional brasileira e as características gerais do agronegócio nacional. Desde 1940, ano em que foi publicado o primeiro censo demográfico pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil se tornava um país mais urbano do que rural.
De acordo com o estudo censitário, o índice populacional em 1940 era de 41,2 milhões de habitantes. Seis décadas depois, o índice aumentou 212,13%, já que, segundo o IBGE, em 2000, a população era de 169,8 milhões. A crescente refletiu na relação entre o campo e a cidade, principalmente nos índices de urbanização.
Para se ter uma ideia, na década de quarenta, 12,8 milhões de pessoas moravam nas cidades e 28,2 milhões no campo. Sessenta anos depois, o espectro mudou. A população urbana era de 137,9 milhões de habitantes, ultrapassando os 31,8 milhões da rural. Com isso, o índice de urbanização brasileiro passou de 31,3% para 81,2%, crescimento acentuado. 
O fenômeno de migração campo-cidade transformou a realidade espacial, produtiva, estrutural e econômica do agronegócio para atender a demanda de tantos consumidores. Mesmo com a queda do índice migratório entre 2000 e 2010 – ano do mais recente censo demográfico nacional -, que passou a ser de 17,6% contra 25,1% da década anterior, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), ainda há mais pessoas do lado de fora das porteiras do que nos espaços agrícolas.

O bom filho a casa torna

Em busca de qualificação profissional, Diego Nascimento deixou o sítio dos pais, em Itapuí/SP – cidade com pouco mais de 11 mil habitantes -, para cursar engenharia agronômica em Ilha Solteira, no noroeste do estado. Distante de casa, o estudante passou a ter contato com outros pequenos produtores por meio da empresa júnior Ramo da Terra, que oferece serviços de consultoria à comunidade agrária local. Graças a iniciativa, Diego consegue aplicar os conhecimentos adquiridos durante as aulas e contribuir para que famílias como a dele possam melhorar ainda mais suas plantações. 
Diego faz parte de um movimento interessante: deixar a zona rural em busca de conhecimento para retornar ao campo, tornando-o ainda mais produtivo e sustentável. “Atualmente, o grande gargalo está na formação de agrônomos, técnicos agropecuários e outros profissionais, que devem mostrar para pequenos e médios produtores que é preciso  aplicar novas técnicas, não só no sentido de tecnologias, mas no de utilizar recursos já disponíveis na propriedade de maneira sustentável para obter resultados positivos e, assim, bons retornos financeiros”, resume o estudante.

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Plantação de cana-de-açúcar no sítio da família Nascimento (foto: arquivo pessoal)

As experiências adquiridas junto à empresa Ramo da Terra fizeram Diego identificar na própria família e em outros produtores alguns problemas culturais. “Há certo receio por parte deles, incluindo meu pai, que pensam ‘não quero mexer, já tô ganhando meu dinheiro e se não der retorno…’, há um medo de arriscar”, alega o graduando. Nesse sentido, retornar ao campo com conhecimento adquirido na cidade auxilia famílias a identificar impasses antes não percebidos e, assim, otimizar a cadeia produtiva. 
Exemplo disso é o caso do “Seu Sílvio”, como ficou conhecido um produtor de mandiocas atendido pela empresa júnior. “A princípio, ele queria apenas uma análise de solo para identificar qual seria a adubação correta. Fizemos a análise, identificamos as adequações necessárias e criamos uma identidade gráfica para os produtos”, orgulha-se o itapuiense. Agora, as mandiocas produzidas pelo seu Silvio, antes vendidas somente nas feiras, podem ser encontradas também nos supermercados locais.
Não é somente na agricultura que medidas, como as oferecidas pelas consultorias de Diego, podem ser tomadas. Na pecuária, atividade mantida pelo sítio da família do estudante, por exemplo, técnicas como pastejo rotacionado, diminuição da área de pasto, irrigação e adubação adequada, arborização de pastagens, dentre outras, podem ser aplicadas para o produtor ter melhores resultados e, com isso, lucro, dando-o mais poder de investimento e consumo, além de girar a economia.  
Após contribuir para agricultores produzirem mais, Diego pretende, também, trazer melhorias para produção do próprio pai, Amauri Nascimento, que arrenda cana-de-açúcar para uma usina local e cria algumas cabeças de gado. A consultoria familiar terá início, claro, pela análise de solo e deve contemplar a instalação de piquetes e outros instrumentos. Diego é, portanto, o bom filho que a casa torna – e repleto de conhecimento na bagagem.
Soluções para lavouras mais produtivas e sustentáveis
Há poucas pessoas na zona rural e muitas em área urbana. E, assim, a conta não fecha. Se tem tanta gente nas cidades, como quem ainda está campo consegue produzir alimentos, insumos e produtos de modo geral suficientes para atender as demandas da população? Logo, caímos no avanço das fronteiras agrícolas, da produtividade e do uso de tecnologias para uma produção eficiente e sustentável.

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Número crescente de exportações é indicativo de que o agronegócio brasileiro está indo de vento em popa (créditos na imagem)

Para abastecer cidades cada vez maiores, o agronegócio adotou e desenvolveu técnicas, métodos e equipamentos que permitem aos produtores expandirem ainda mais o principal setor econômico do país. As melhorias podem ser vistas desde o trato com as sementes à colheita. “Um passo muito importante foi o uso de GPSs e programas para sensoriamento remoto e vant’s (drones). Atrás desses mapeamentos a produção fica mais aplicada e assertiva, diminuindo gastos com insumos e mão de obra”, explica Loyara de Oliveira, engenheira agrônoma.
A biotecnologia, por exemplo, contribui para um cultivo de sementes mais resistentes à pragas e defensivos agrícolas. As adaptadas, como transgênicos,  permitem cultivar mais em menor espaço e tempo ― produtividade. A Embrapa, por exemplo, desenvolve alternativas naturais para combater pestes, como controles biológicos. Dentre as soluções trabalhadas pela empresa, há os estudos de fluorescência desenvolvidos pela pesquisadora Anielle Ranulfi. “Ao incidir sobre a folha, o raio ultravioleta causa uma reação de fluorescência, que pode indicar alterações na planta e, assim, facilitar o diagnóstico precoce de doenças”, explica a doutora. 

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O avanço em equipamentos precisos contribui para a modernização do campo e a expansão da atividade agrícola. “Cada vez mais focado na área de robótica, o agronegócio desenvolveu ferramentas de geolocalização, sensores de produção terrestres e aéreos e biocombustíveis agrícolas”, pontua o engenheiro agrônomo Jorge Abranches. Tais recursos, somados ao uso responsável de defensivos e ao manejo fitossanitário adequado, fizeram do Brasil um grande produtor de soja, cana-de-açúcar, café, milho e algodão, além de outras culturas (foto: Pixabay) 

A tecnologia de precisão, além disso, é essencial para o produtor conhecer sua própria lavoura. “Equipamentos ajudam produtores a mapear o solo e, com isso, delinear com precisão o relevo, identificar carências e permitir com que soluções sejam pensadas”, explica o pesquisador Paulino Vilas Boas, também da Embrapa. Isto é, ao construir um sistema de informações e de manejo integrado, a agricultura lida com variações de tempo e espaço do campo, permitindo adequar as lavouras para que as safras não sofram grandes mudanças. Desse modo, é possível produzir independente da estação. 

Acima, infográficos da Aegro (reprodução)

E, neste cenário, o controle está na palma das mãos. É a partir de aplicativos para celular – os apps – que produtores monitoram o que está entre as cercas das propriedades. As ferramentas de gerenciamento agrícola permitem ao usuário acompanhar se tudo segue como esperado, evitando desperdícios, custos ou perdas. Exemplo disso são os softwares Aegro, que oferece funções como controle de estoque e fluxo de caixa, e o “Roda de Reprodução”, da Embrapa, que facilita o gerenciamento de rebanhos leiteiros. Nos dias de hoje, o berrante que toca a boiada é a informação.

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Repleto de recursos, celulares têm trazido dinamismo e instantaneidade ao agro  (foto: reprodução/site StartAgro)

Entretanto, de nada adianta ter boas colheitas sem levar em consideração o meio ambiente, pois é da natureza que o produtor retira os recursos necessários para ter uma produção de sucesso, espaço no mercado e reconhecimento. A sustentabilidade é, ainda, uma pauta emergente. A agrônoma Loyara reforça que “os recursos hídricos são um ponto chave com relação à agricultura pelo fato de ser um dos segmentos que mais utiliza esse bem. É importante o uso correto e racional. Felizmente, produtores têm se preocupado com o desperdício e, com isso, criado formas mais dinâmicas para usar a água”. Logo, a responsabilidade do agronegócio não acaba na entrega dos produtos aos consumidores, pois vai além desta relação cíclica. 
Com altos índices de produção, não há apenas exploração do solo e carência de nutrientes, mas também o consumo em larga escala de água. “Hoje, é possível produzir bem, com qualidade e consciência”, pontua a profissional em agronomia. Visto que somos detentores de uma agricultura invejável lá fora, a tecnologia vêm fertilizando o solo do agronegócio há tempos, com programas de conscientização e reuso da água, por exemplo. “Também temos alternativas para irrigação como por gotejamento e até tecnologias com horários pré determinados, para assim só irrigar quando for necessário. O gasto e o consumo de água é menor do que com pivô central. A água vai diretamente no pé da planta sem correr o risco de se haver perdas por deriva (vento)”, complementa.


Matéria produzida pelos estudantes Leandro Gonçalves e Vinícios Rosa, do curso de Comunicação Social – Jornalismo, da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (FAAC), Unesp campus de Bauru, para a 12ª edição do Prêmio ABAG-RP de Jornalismo “José Hamilton Ribeiro”. A publicação é supervisionada pela professora Dra. Angela Maria Grossi, editora do site “Jornalismo Especializado”, referente à disciplina de mesmo nome oferecida na grade curricular do curso.

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Redação

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