Apesar de muitos jovens entrarem para a política da forma convencional, muitos outros preferem estar presente nesse meio de outras formas
Nas últimas eleições, de acordo com as estatísticas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os jovens de 16 e 17 anos somavam 2.311.120 eleitores aptos a votarem. Já o total de jovens entre 16 e 29 anos representavam 27% do eleitorado nacional.
O direito ao voto por jovens de 16 e 17 anos foi conquistado pelo movimento estudantil brasileiro em 1980. E mais tarde, incorporado na Constituição de 1988 como um direito garantido, apesar da não obrigatoriedade.
Ainda que a taxa de jovens aptos a votar tenha caído. De acordo com o cientista político, Gabriel Avila Casalecchi, o que mudou foi a forma de fazer política de cada geração. “Os jovens de hoje estão cada vez mais afastados das formas convencionais de participação, como os partidos políticos, sindicatos e órgãos representativos, e mais próximos de formas não convencionais, como as manifestações e protestos, abaixo assinados virtuais e grupos de discussão”, explica.
Apesar de serem formas diferentes, os jovens de qualquer geração são engajados politicamente, seja através dos movimentos estudantis ou da forma que se interessam por essa informação. Segundo a advogada, Isabella Afonso, 24 anos, a política faz parte de todos os espaços de nossa vida, “Eu acho que não existe essa coisa de não se interessar pela política, porque tudo de certa forma é político”.
Em 2013, as manifestações que ocorreram em diversos estados do Brasil foi uma representação clara do interesse dos jovens pela administração do país. Conforme a pesquisa da jornalista, Rachel Mourão, este ano mudou completamente a forma como seus colegas de profissão viam protestos e que a principal parte disso, foram as redes sociais.
Afonso também pontuou uma das razões por qual as manifestações foram um marco importante para a juventude.
O aumento da passagem do transporte público gerou inúmeros protestos no Brasil no mês de junho. Porém ao decorrer dos acontecimentos as manifestações foram aumentando e as demandas políticas também, as insatisfações já não era mais somente pelo aumento, mas por variados temas, como corrupção, má qualidade do serviço público, gastos com a Copa e outros assuntos de cada movimento social presente.
Rachel Mourão aponta que essas manifestações tiveram seu ônus e bônus para a juventude, “Por um lado, atingiram um movimento de escala mundial, unindo a insatisfação popular em todas as grandes cidades do país e dos brasileiros pelo mundo. Mudou-se muito a visão de que todo manifestante é baderneiro e conseguiram trazer a classe média às ruas nas últimas semanas de junho. Por outro lado, como tinham muitas demandas de todos os lados da política, o movimento talvez tenha perdido a coesão inicial”
https://www.thinglink.com/scene/941010601147105282
Um fenômeno midiático que emergiu dessas grandes manifestações foi o coletivo Mídia Ninja. Formado por uma rede de comunicadores ficou conhecido por ter um modelo de transmissão sem manipulações, ou seja, “sem corte e sem censura”. Seu nome é mais do que a carga oriental trazida em ninja, significa “Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação”. E em sua página do Facebook, eles apontam qual a abordagem do coletivo “Nossa pauta está onde a luta social e a articulação das transformações culturais, políticas, econômicas e ambientais se expressa”.
Com menos de 3 meses da criação da página, o coletivo já tinha cerca de 100 mil curtidas, hoje, após quatro anos de sua grande repercussão, o Mídia Ninja tem 1.569.439 curtidas.
Confira um pouco mais sobre o grupo na entrevista dada pelos idealizadores, Bruno Torturra e Pablo Capilé, para o Roda Viva:
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=kmvgDn-lpNQ&w=560&h=315]
Apesar da rápida divulgação e união que essas redes sociais propõem, elas também podem gerar um falso engajamento, segundo a jornalista, “Essa rapidez pode gerar um engajamento superficial, onde as pessoas que foram unidas por algo em comum em 2013 de repente se veem rodeadas de outros manifestantes completamente diferentes delas”.
O coletivo Mídia Ninja não é o único veículo independente que surgiu nos últimos anos. Em maio de 2015, o coletivo Jornalistas Livres criou um projeto para arrecadar por meio de financiamento coletivo verba para continuar com a mídia independente. Eles se denominam um contraponto ao jornalismo praticado pela mídia tradicional, e seus valores estão intimamente ligados a paixão pela democracia e a defesa radical dos direitos humanos. Possuem 852.432 curtidas no Facebook.
A tendência é que esses veículos independentes cresçam ainda mais, pelo desenvolvimento da tecnologia. Porém assim como o Jornalistas Livres, mesmo que a produção seja menor que o das grandes mídias tradicionais, monetizar um trabalho deste não podem ser ignorados. Geralmente o dinheiro vem de doações, crowdfunding, publicidade ou até mesmo de prêmios e assinaturas.
Caso você queira conferir, a Agência Pública reuniu iniciativas independentes do Brasil que surgiram na rede, completamente desvinculadas de mídias tradicionais. E a maioria, se não todas, são grupos de jovens fazendo política e tentando mudar suas insatisfações.
O movimento estudantil tem um papel incentivador e transformador na sociedade e muitos foram os momentos da história em que jovens estudantes tiveram uma participação crucial. Na Ditadura Militar, por exemplo, a principal fonte de oposição e resistência ao governo eram de universitários, tanto que centros e diretórios acadêmicos foram fechados.
Para a já formada em Direito pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), Isabella Afonso, participou do Diretório Central dos Estudantes e de duas chapas do Centro Acadêmico do seu curso. Acredita que essas atuações políticas mudaram sua forma de pensar, “Foi extremamente importante para minha formação, para o meu crescimento. Depois eu montei uma chapa [já participava da chapa em exercício] e fui gestão de novo, e ao final ainda fiquei ajudando a gestão seguinte. Foi uma experiência extremamente transformadora”, declara.
Na Universidade Estadual Paulista (UNESP), campus de Bauru, além dos diretórios e centros acadêmicos, há ainda formas de atuação política através dos coletivos. Há o coletivo feminista, Abre Alas, que atua no combate às opressões e realiza debates para ampliar o conhecimento das mulheres sobre feminismo. Há também, o Coletivo Prisma, que tem como objetivo discutir interesses da comunidade LGBT+, e nesse mesmo viés, existe o FEB Pride, coletivo LGBT da Faculdade de Engenharia. E por fim, o Coletivo Negro Kimpa, que desempenha papel importante contra o racismo, dando força aos negros e negras da faculdade.
O engajamento dos jovens na política não é exclusividade dos brasileiros, um estudo feito pelo American Press Institute e pelo Associated Press-NORC Center, em 2014 e 2015, mostrou que 85% dos jovens nascidos entre 1980 e 2000 consideram importante acompanhar o noticiário. O levantamento ainda aponta que temas como política, tecnologia e notícias locais ainda levam vantagem sobre temas como moda e celebridades. Outro dado importante que o estudo mostrou foi que a maioria dos entrevistados consideram as redes sociais uma maneira de se informar, normalmente quando encontram algo interessante, fazem uma busca para se aprofundarem, ao invés de ir atrás de um veículo tradicional.
Empresas, governos, instituições precisam começar a dialogar com os jovens, pois são esses que ditaram o futuro do país e aqueles que definirão que tipo de sociedade teremos. Uma política centrada no público jovem exige renunciar as formas tradicionais, como acredita, Gabriel Casalecchi, “A democracia no Brasil terá que se adaptar a esse novo perfil político que vem surgindo com as novas gerações. Isso envolve uma profunda reforma política além de uma busca maior de diálogo e inclusão”.
Segundo o levantamento do Data Popular (2015), 59% dos jovens concordam que o país estaria melhor sem partidos políticos, ao mesmo tempo, 70% acreditam que o voto pode transformar o Brasil. Apesar da insatisfação política, o jovem acredita que através de manifestações e voto, a mudança poderá vir.
Para confirmar o cenário de que os jovens estão cada vez mais engajamos politicamente, um exemplo de que muitos estão insatisfeitos e procuram outras formas de fazer política é o caso da Ana Júlia Ribeiro, 17 anos, autora do discurso que viralizou nas redes sociais sobre as ocupações das escolas na Assembleia Legislativa do Paraná, em 2016. De acordo com a jovem, seu comprometimento na política começou depois deste episódio, “Em atuação de fato na política foi depois das ocupações, porém antes eu já debatia. Não teve um marco na minha vida para que eu começasse a me engajar, foi uma construção ao decorrer dela”.
Contudo, podemos afirmar que os jovens estão cada vez mais participando da política, seja da forma que eles acreditam serem mais efetivas, com ativismo político e manifestações, ou seja, se inserindo nos meios convencionais. O que pode-se perceber é que os grandes veículos tradicionais, como a televisão ou jornal impresso, estão perdendo seu espaço para mecanismos de busca e mídias coletivas.