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Streaming: aliado contra a pirataria ou inimigo de mercado?

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Vistos primeiro como a solução contra a pirataria online, os serviços de streaming agora competem com os meios tradicionais de consumo de entretenimento, que buscam maneiras de se reinventar frente ao novo panorama digital.

Ihanna Barbosa e Jonas Lírio

A Netflix começou 2016 com uma boa notícia: logo no primeiro dia do ano, superou a marca de 75 milhões de usuários em seu serviço de streaming de vídeo. No Brasil, estima-se que o número chegue a três milhões de pagantes e que a empresa deva superar as receitas da RedeTV! e da Band, faturando 500 milhões de reais somente neste ano. As plataformas de streaming de música também têm o que comemorar: dados indicam que o Spotify chegou na casa dos 30 milhões de usuários premium de seu serviço, enquanto a Apple Music, lançada em junho de 2015, já possui mais de 11 milhões de consumidores pagantes.

Esses números, aliados a alguns bons resultados para a indústria audiovisual – como o Digital Music Report da Federação Internacional da Indústria Fonográfica, que indica que, em 2014, pela primeira vez na história da indústria musical, a receita total da indústria veio igualmente das vendas físicas e digitais, 46% de cada lado -, sinalizam que o público está cada vez mais à vontade para consumir conteúdo na internet de forma legal. Pela primeira vez em muito tempo, acredita-se ter encontrado uma solução para acabar com a pirataria online, uma guerra que já dura mais de 15 anos.

Pirataria: um crime de milhões

Na segunda metade dos anos 1990, as vendas de CDs rendiam milhões para a indústria fonográfica. Neste mesmo período, o DVD começava a ser implantado no mercado de filmes, séries e shows. Empresas de tecnologia desenvolviam CDs e DVDs players, oferecendo até opção de aparelhos portáteis. Porém, durante o fim da década de 90 e começo dos anos 2000, outro produto tecnológico se popularizou: o computador – e com ele a desconhecida internet. Esses dois fatores combinados trouxeram uma dor de cabeça, sentida até hoje, para os produtores da indústria do entretenimento. A pirataria de música se espalhou rapidamente enquanto as gravadoras se deslumbravam com o faturamento da altas vendas de CD. Quando os empresários finalmente olharam com atenção para esse novo hábito de seu público alvo, já era tarde demais.

A situação se agravou mais, atingindo também as produtoras de filmes com a popularização da internet. Em fóruns online, programas de compartilhamento e sites de downloads ganharam força, tornaram-se quase invencíveis no começo dos anos 2000. Enquanto a indústria tentava derrubar a pirataria processando sites, programas e até consumidores um a um, novos sites, novos programas e novos consumidores chegavam à internet. Em 2003, um estudo realizado pela empresa americana de telecomunicações AT&T apontou que 95% dos filmes produzidos por Hollywood naquele período já estavam disponíveis na internet, sendo que alguns ainda não haviam nem chegado aos cinemas.

No mercado fonográfico, após uma batalha na justiça contra o programa de compartilhamento de música Napster, a indústria conseguiu derrubar o programa, o que não impediu que outros fossem desenvolvidos ou que as pessoas continuassem trocando música ilegalmente na internet. No Brasil, a Associação Brasileira dos Produtores de Discos (ABPD) estimou que 52% dos CDs vendidos em 2003 eram cópias ilegais.

O mercado do entretenimento não conseguia competir com o acesso fácil, gratuito e cada vez mais rápido à produtos audiovisuais. Em uma tentativa de se adaptar aos novos hábitos dos consumidores, investiu-se na proposta de Steve Jobs de criar uma loja virtual de venda de música digital e, posteriormente, de filmes: o iTunes. A venda de produtos audiovisuais se estabilizou, mas pouco refletiu nos números da pirataria, que só aumentavam. Em 2009, a revista Superinteressante decretou a vitória da pirataria e informou que 45% dos brasileiros com acesso à internet baixam conteúdo de forma ilegal e que a indústria do entretenimento chegou a processar 50 mil usuários de internet por pirataria.

O site sueco Pirate Bay, um indexador de torrents, é um dos mais populares sites para encontrar arquivos piratas; filmes, músicas, séries, jogos, são milhões de gigabites de conteúdo disponíveis para qualquer usuário. As produtoras de filmes e gravadoras tentam há anos derrubar a plataforma, que parecia apenas ganhar força com a popularidade alcançada com os processos. Em 2009, quatro programadores foram condenados pela justiça a pagar uma multa e a cumprir pena na cadeia, e mesmo assim o Pirate Bay permaneceu no ar, mudando quando necessário o país onde o site ficava hospedado.

https://www.youtube.com/watch?v=4SF11MvnFfY

Uma pesquisa feita durante os seis primeiros meses de 2012 pelo serviço de monitoramento musical Musicmetric apontou que mais de 3 bilhões de músicas foram baixadas por todo o mundo via torrents nesse período. O Brasil apareceu como o 5º país que mais baixa músicas ilegalmente, com 43 milhões de downloads. No mesmo ano, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) divulgou uma pesquisa que apresentava o perfil do piratas online no Brasil. 51% dos entrevistados afirmaram fazer download ilegal de arquivos. Os grupos das classes A e B, com alta escolaridade, da região sudeste e do sexo masculino foram os que mais confirmaram consumir produtos piratas, embora os números das outras categorias também fossem expressivos: 54% dos entrevistados da classe A fazem download ilegal, enquanto 48% dos entrevistados da classe C também baixam arquivos.

Em uma ação da Polícia Federal em novembro de 2015, o casal Marcos e Thalita Cardoso foi preso no interior de São Paulo, acusado de administrar o site de conteúdo pirata MegaFilmes, com um acervo de 150 mil títulos de filmes, séries, documentários, programas de TV e shows. A polícia estima que a página chegava a receber 60 milhões de visitas por mês, tendo um lucro de R$ 70 mil reais por mês com a verba de publicidade. O casal permaneceu 10 dias presos e agora responde o processo em liberdade. Apesar de ter saído do ar no dia da operação da polícia federal, o MegaFilmes voltou em um novo endereço apenas 24h depois.

Uma luz no fim do túnel? Talvez não

A chegada e popularização dos serviços de streaming complicam ainda mais o panorama da indústria audiovisual. Se, por um lado, os meios tradicionais ganharam um aliado na luta contra a pirataria, agora elas têm de se preocupar com seus competidores legais ganhando cada vez mais espaço no mundo todo. No Brasil não é diferente. Ao perderem mais de um milhão de assinantes nos últimos anos, as operadoras de TV organizaram o que o colunista Ricardo Feltrin chama de “megalobby” em Brasília contra a Netflix, principal plataforma de streaming de vídeo atuante no país.

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Apesar desse contra-ataque à maior empresa do ramo, as operadoras investem, ironicamente, no mesmo tipo de plataforma para estancar os prejuízos causados pela pirataria e pela competição mais forte. Enquanto a Fox disponibiliza o Fox Play desde junho de 2014, a Rede Globo lançou o Globo Play, que permite ver a programação do canal ao vivo e on demand, em novembro passado e a HBO prepara a abertura de seu HBO Go para não-assinantes do pacote de TV. “Temos percebido mudanças nos hábitos de consumo de conteúdo e estamos lançando esta nova plataforma da HBO GO como um serviço ‘a la carte’ em resposta a essas novas tendências”, comentou Emilio Rubio, CEO da HBO Latin America.

No caso do streaming de música, a situação é ainda mais complexa. Apesar de não haver dados concretos sobre a queda da pirataria no período em que serviços como Spotify e Deezer se popularizaram, a plataforma de pesquisa de mercado Opinion Box revelou que o número de pessoas que baixam músicas ilegalmente caiu 31% entre quem usa streaming no Brasil. É um número pouco expressivo, mas que tende a aumentar conforme alguns problemas – como catálogo pequeno e má qualidade da internet no país – forem resolvidos.

Enquanto isso, as gravadoras precisam encontrar meios de se adaptar à nova realidade digital. As empresas de televisão investem em suas próprias plataformas de streaming, já os selos musicais passaram a investir em serviços consolidados. Universal Music Group, Sony Music Entertainment e Warner Music Group, as três maiores empresas do ramo, são donas de quase 15% das ações do Spotify. Ou seja, além de lucrar com o streaming de seus produtos nessas plataformas, elas ganham dinheiro ao verem os serviços sendo valorizados.

Carlos Taran, empresário e consultor estratégico para vários artistas nacionais, não acredita que streaming é a solução para a pirataria. “Não gosto de pensar que o streaming é ‘o’ caminho, como se fosse o único que temos pela frente. É uma alternativa boa. Mas talvez amanhã surjam outras, também boas”, comenta em seu artigo “Precisamos falar sobre o Streaming”.

Há mais de 15 anos as indústrias fonográfica e cinematográfica têm processado sites e programadores na tentativa de acabar com a disseminação de produtos piratas online, mas a estratégia ainda se mostra pouco efetiva, uma vez que tais sites de conteúdo ilegal voltam ao ar em pouco tempo. Sendo assim, observar o aumento do uso de serviços de streamings é uma amostra de que ainda há milhões de pessoas dispostas a pagarem pelo produto de entretenimento que consomem, abrindo novas oportunidades de estratégia para a indústria, nas quais todos os envolvidos na produção, venda e consumo dos produtos audiovisuais possam ser beneficiados com os novos rumos do mercado do entretenimento.

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Redação

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