O país apresenta um crescimento econômico que contrasta com a situação de outras nações
Por Pedro Fonseca e Patrick Souza
Um dos membros fundadores da união em 1991, o Uruguai é um dos únicos participantes do Mercosul a estabelecer uma política abertamente de esquerda. Essa posição se mantém mesmo com a crescente onda do conservadorismo se alastrando pelos seus companheiros . A estabilidade que o país vive vai de encontro aos questionamentos da política de direita dentro da América Latina.
A clara mudança de eixo da política que alguns países sul-americanos tem passado pode interferir nas relações do grupo internacional, Mercosul. Atualmente há o surgimento de presidentes que representam a visão de direita de algumas nações como a Argentina, Brasil e, possivelmente, a Venezuela com o autoproclamado presidente, Juan Guaidó. Esse novo status quo gera contraste com a visão política da esquerda que por muitos anos exerceu liderança unânime no Bloco.
Comparando as políticas entre Uruguai e Brasil, é possível perceber que elas se encontram em momentos completamente diferentes. O ínicio do mandato do presidente Jair Bolsonaro foi marcado por uma série de polêmicas e questionamentos. Entre eles está a decisão de não tornar o bloco do Mercosul uma das prioridades da agenda de governo, conforme informou o Ministro-chefe da casa Civil Onyx Lorenzoni. As mudanças de plano do Brasil em relação ao resto do grupo foram confirmadas na fala do presidente brasileiro que afirmou “o propósito é construir um Mercosul enxuto que continue a fazer sentido e ter relevância”.
A visão de Bolsonaro em relação ao bloco econômico se mostra bastante oposta, principalmente tendo em vista os alinhamentos políticos de grande parte de seus membros. Durante um jantar em Davos,o presidente do Brasil teria dito a Juan Sartori, um empresário do Uruguai, a frase “Vê se tira a esquerda de lá”. Juan foi anunciado naquela noite como o pré-candidato do Partido Nacional, também conhecido como o “Partido Blanco” no Uruguai. Suas visões políticas vão de encontro às de Bolsonaro, e sua carreira faz um direto paralelo com o histórico de Donald Trump.
Uruguai e o Mercosul
A proposta inicial do Mercosul era a de estruturar um grupo de países que pudessem competir contra a hegemonia de mercado estabelecida por países como Estados Unidos, China e as grandes potências da europa. Para atingir esse propósito, as nações sul-americanas iriam desenvolver relações comerciais entre si, valendo-se de suas principais forças de mercado. Dessa maneira as negociações dentro do bloco iriam resultar em um desconto para os membros, que desta forma não precisariam buscar os produtos em outros continentes, impulsionando a oferta e a demanda dentro do bloco.
No atual cenário de transformações, um dos países que ganha destaque por conservar seu ponto de vista é o Uruguai. Os grupos de esquerda tem estabelecido o mandato sobre a política Cisplatina a mais de uma década. O resultado dessa predominância pode ser vista em uma estabilidade política, social e econômica que se difere das outras grandes nações da América Latina. O Uruguai tem o setor agropecuário como o carro-chefe da economia e vem apresentando o crescimento no setores de transporte, armazenamento e comunicação, em 2016 esta área cresceu em 6,5%. Já em 2019, a previsão é que o Produto Interno Bruto (PIB) do país cresça em 3,1% no mesmo ano, de acordo com o FMI. O Brasil, por sua vez, teve um decréscimo na expectativa de crescimento do PIB, o valor que era de 2,4 %, atualmente, estima-se em 1,5%.
Dentro do Mercosul, o Uruguai ainda se estabelece como um dos principais nomes do grupo. Para entender a importância do país dentro do bloco basta lembrar que o apoio do Uruguai foi fundamental para que o Paraguai fosse suspenso do Mercosul em 2012. Já em 2018, o país mostrou sua força ao negar os pedidos da União Europeia nas negociações de um acordo de livre comércio do grupo com o Mercosul. Na época, a Argentina e o Brasil mostravam-se a favor de concluir as negociações. No entanto, o Uruguai conseguiu realizar um entrave no tratado. Em uma das declarações o presidente do país, Tabaré Vásquez, declarou que o Uruguai não assinaria um “acordinho” com a União Europeia.
Consequências
No entanto, o poderio e a estabilidade uruguaios podem estar em risco. O ministro da economia do país, Danilo Astori, declarou em um fórum: “Acho que o Mercosul continua sendo imprescindível para o Uruguai. Não concebo um Uruguai desintegrado de seus vizinhos. O Uruguai não pode fazer sozinho um caminho deste tipo”. Agora, se torna incerto se o reconhecimento da importância desse projeto será o suficiente para manter a concepção do Mercosul em meio a tantas transformações ideológicas.
A relação entre o país e o próprio Brasil se encontra, por tais motivos, num momento de entrave. Recentemente, foi anunciado o fechamento de um posto da Petrobrás em solo uruguaio, já que a rede não estaria trazendo lucros, segundo o presidente da companhia brasileira, Rodrigo Castello Branco. Ao mesmo tempo, foi declarado também que a rede no Uruguai “não os interessa”. Esse menosprezo realça ainda mais uma desavença entre os dois países que são pilares dentro do eixo sul.
Ainda assim, o Uruguai consta como o 15º país na lista de destinos de exportação do Brasil, atrás de países com grande comércio como os EUA, Alemanha e China. Um dos motivos para a posição não ser maior, além das crescentes divergências políticas, talvez seja a própria produção dos dois países, similares em alguns dos setores principais (carne bovina, soja, entre outros).
Agora é preciso esperar para ver se o posicionamento da nação cisplatina vai se manter nos anos que seguem. As medidas de seus companheiros do Mercosul podem ser fundamentais para definir novos rumos em um ano marcado por eleições no país.