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Versão Brasileira: a dublagem toma conta do Brasil

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A preferência nacional por produções em português domina os cinemas e TVs do país. A decisão é das empresas ou do público?

Por Ihanna Barbosa e Jonas Lírio

Dos 157,2 milhões de ingressos de cinema vendidos em 2014 no Brasil, 59% foram destinados a filmes dublados – quase o dobro do total de público que assistiu a filmes legendados (28%), segundo o Filme B, portal que monitora o mercado cinematográfico nacional. Os números refletem na arrecadação final do país: 57% da renda veio de filmes dublados, 32% de filmes legendados e 11% de produções nacionais.

Na TV por assinatura, a opção por conteúdo dublado também é dominante: impulsionados pelo aumento do setor – em grande parte devido ao crescimento das classes C e D -, os canais a cabo passaram a oferecer programas dublados como principal opção. É o caso do Warner Channel, que, desde maio deste ano, transmite toda sua programação 100% em português.

Mas não foi sempre assim. No passado, filmes legendados eram a única opção nos cinemas nacionais, já que o processo de dublagem nem sequer existia no Brasil. O cenário começou a mudar quando, em 1938, Branca de Neve e os Sete Anões chegou em versão dublada no país, supervisionada por executivos da própria Disney, e foi um sucesso de bilheteria. Desde então, desenhos animados entravam em cartaz exclusivamente em versões dubladas, mas os filmes com atores continuaram sendo exibidos com legendas.

Na TV, a situação era outra. Durante as décadas de 1950 e 1960, quando a dublagem ainda não era trabalhada no país, a qualidade da exibição de programas legendados era tão baixa que atrapalhava na leitura das legendas, um problema que precisava ser superado para que os televisores continuassem a se popularizar. A solução foi dublar os filmes e seriados transmitidos na TV, o que fez surgir inúmeros estúdios de dublagem pelo país, principalmente no eixo Rio de Janeiro – São Paulo.

O que firmou a dublagem como principal recurso na televisão nacional foi um decreto do então presidente Jânio Quadros, em 1962, impondo que produtos audiovisuais vindos do exterior deveriam ser transmitidos completamente dublados. O decreto tinha o objetivo de atender a todos os telespectadores ao forçar as empresas televisivas a transmitir a programação estrangeira com o áudio dublado. Na época, ter televisão em casa era quase um artigo de luxo. Com o passar dos anos, a TV se tornou um dos meios de comunicação mais populares e colocou o áudio dublado como norma, talvez mais como hábito do que por inclusão.

A alternativa para quem queria optar pelo áudio original veio com a TV por assinatura, que teve um aumento expressivo nos últimos 10 anos. Em 2006, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) contabilizava cerca de 4,7 milhões de assinantes da TV paga, o último dado divulgado em 2015 revela um aumento de mais de 15 milhões de novos assinantes.

O crescimento é, em parte, um reflexo da ascensão de milhões de brasileiros à classe C. O aumento do poder aquisitivo permitiu que uma maior parcela da população tivesse acesso à TV por assinatura e aos cinemas, sendo tão expressivo que as empresas não poderiam ignorar seus novos telespectadores, que já carregavam o hábito da programação dublada nos canais abertos. Cláudia Clauhs, diretora de programação do canal FOX entre 2011 e 2013, afirmou na época que a empresa optou pelo padrão dublado para cativar o público da classe C, e assim tem sido em outros canais da TV paga. O AMC, do grupo AMC Networks International Latin America, chegou ao país em abril deste ano completamente dublado, a princípio sem a opção de áudio original disponível.

https://www.youtube.com/watch?v=cpYyCEIMTOQ

Uma pesquisa realizada pelo instituto DataFolha, encomendada pelo Sindicato das Empresas Distribuidoras Cinematográficas do Município do Rio de Janeiro, mostra que, em 2008, 49% dos das pessoas preferiam assistir filmes dublados na TV por assinatura; em 2012 esse número aumentou para 56%. São baseados nessas pesquisas que grandes redes de cinema e canais da TV por assinatura estão investindo na versão brasileira da sua programação.

Porém, tais mudanças têm causado descontentamento dos adeptos ao áudio original, visto que o dublado vem tomando conta da programação, às vezes sem oferecer alternativas. Foi isso que motivou Bruno Carvalho a criar o movimento #DubladoSemOpçãoNão!, em 2012, junto com a Sociedade dos Blogs de Séries. Eles criaram uma petição online que chegou a reunir 9.648 assinaturas. O abaixo-assinado já chegou ao fim, mas o movimento continua a cobrar os canais pagos e a gerar grande repercussão nas redes. “É uma questão de respeito pelo consumidor. Não somos contra a dublagem e sabemos que grande parte do público a prefere. Mas não pode haver ditadura da maioria. Todos os assinantes, independentemente de classe social ou preferência, têm o direito de escolher a forma como querem assistir suas atrações”, diz Bruno à Revista do Idec.

Em março, o canal Sony anunciou que a séries Grey’s Anatomy, The Blacklist, How To Get Away With Murder, Scandal e Once Upon a Time passariam a exibir seus episódios inéditos já com o áudio dublado, o que gerou reclamações e duras críticas do Ligados em Série, um dos maiores sites dedicados a filmes e séries do país, idealizado por Bruno Carvalho. A Sony rapidamente se pronunciou após a repercussão das reclamações e se comprometeu a disponibilizar as legendas, e em julho a opção já estava acessível para os telespectadores. Alberto Niccoli, gerente geral e vice presidente da Sony Pictures Television Brasil, afirmou ao site que o canal sabe da importância de oferecer as duas opções de áudio, mas o padrão adotado será a programação 100% dublada, com a legenda como opção.

Filmes direcionados a outros públicos que não o infantil (em que a versão dublada é enviada para quase 100% das salas) também foram dominadas pelo português: “Malévola” (Disney) e Annabelle (Warner Bros.) conseguiram 77% e 73% de sua arrecadação com as versões dubladas.

O portal Filme B, quando divulgou o dado que mais da maioria da salas de cinemas do Brasil exibiram sua programação dublada em 2014, ainda informou que a demanda foi percebida logo pelos gerentes das redes de cinema, com base no comportamento de seus clientes. Em Bauru, Rosana Gonçalves,  gerente do Cine Araújo no Bauru Shopping, comenta que o cinema recebe os filmes “legendados e o dublados, mas em salas legendadas, com 300 lugares, às vezes não chega a 10 pessoas por sessão” e por isso o cinema opta por destinar a maior parte da sua programação para filmes dublados.

O grupo Araújo tem 84,2% do seu público consumindo filmes dublados, segundo dados divulgados pelo Filme B, sendo apenas 6,5% do público assistindo a filmes legendados. A rede tem a maior parte das suas salas espalhadas pelas cidades do interior, assim como o grupo Moviecom, que apresenta um dado ainda mais expressivo: 87% do seu público procura pelos filmes dublados. Rosana conta que o cinema já chegou a cancelar sessões legendadas por falta de público, principalmente no período da tarde, observação que vai de encontro ao argumento de que falta opção de programação legendada. O grupo Cinemark, maior rede de cinema do país, já exibe pouco mais que a metade do seu total de filmes na versão dublada, sendo apenas 36,8% disponibilizado no seu áudio original e o restante são produções nacionais.

A reclamação de parte do público pela predominância da versão brasileira nos cinemas poderia estar ligada também à qualidade do áudio, mas nos últimos anos a tecnologia de áudio digital se tornou padrão nas salas de cinemas. A rede Cine Araújo, por exemplo, já apresenta 100% das suas salas digitalizadas. “A qualidade é igual, todos os filmes são digital THX, só na época de exibição em película que ficava diferente”, afirma a gerente Rosana.

Apesar do descontentamento de alguns, é inegável a preferência nacional pelos filmes e séries na sua versão dublada, seja no cinema ou na TV. Porém, como argumenta o movimento #DubladoSemOpçãoNão, a questão é oferecer as versões originais e dubladas para que a o consumidor escolha a opção que lhe proporcione mais conforto. O dublador Wendel Bezerra acredita que ainda há um preconceito com a dublagem brasileira. Dono das vozes dos personagens Goku, Bob Esponja e dos atores Leonardo Dicaprio e Robert Pattinson, Wendel afirmou à revista O Grito que “não é fácil quebrar o paradigma de que um filme só é bom ou só se vai ter a melhor experiência se for legendado”, mas ele também acredita que os avanços da qualidade do áudio irão ajudar a cativar ainda mais espectadores.

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Redação

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