Indefinição. Essa é a palavra que melhor descreve a atual relação entre a União Europeia (UE) e o Reino Unido (RU) desde que o referendo validando a separação da ilha britânica dessa organização econômica foi anunciado.
Votado em Junho de 2016, o Brexit – como é conhecido o processo de desligamento da Inglaterra da UE – trouxe uma série de dúvidas sobre diversos elementos da geopolítica internacional. Não à toa, afinal, essa é a primeira vez que um país abandona o mais influente grupo econômico do mundo.
Apesar de ser um procedimento inédito na União Europeia, não é a primeira vez que o Reino Unido deseja deixar o bloco. Em 1975, a Grã-Bretanha já havia tentado esse feito, apenas dois anos após ingressar na UE. Ocorreu, inclusive, um referendo tal qual o de 2016. Contudo, na ocasião venceu a permanência ao bloco, com 67% dos votos apurados.
Mesmo pertencendo a essa organização política, o RU sempre se opôs a algumas normas do bloco, principalmente com relação a assuntos econômicos, fronteiriços e de autonomia nacional. A Inglaterra, por exemplo, não adota o euro como sua moeda oficial, e sim a libra esterlina. “É evidente que essa questão de autonomia pesou para a decisão do Brexit. Existe na comissão europeia uma fiscalização orçamentária muito forte. Um país que está dentro do bloco não pode, por exemplo, ter um déficit público 3% maior que o seu PIB. E a Inglaterra, sobretudo, nunca gostou de ser fiscalizada desse jeito”, conta à TV Unesp o professor de geografia Robson Montanholli.
Nem mesmo o alerta do secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), Jens Stoltenberg, afirmando que “uma Europa fragmentada agravaria a instabilidade e imprevisibilidade da região” foram suficientes para convencer a população da permanência no bloco. Em 23 de Junho de 2016, o Brexit, em disputa acirrada, vence com 51% dos votos válidos.
O pleito, apesar de não possuir caráter eletivo, tem grande influência nas decisões que o governo deveria tomar. Contrário ao resultado, David Cameron renuncia a chefia do Estado, cabendo a parlamentar Theresa May dar seguimento ao processo de separação.
Autoridades políticas de diversos cantos do globo manifestaram sua opinião sobre o desfecho do Brexit. O Ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, comunicou seu descontentamento no Twitter. “Parece que é um dia triste para a Europa e a Grã-Bretanha”.
Contudo, líderes conservadores de outras nações, como a candidata derrotada nas eleições da França de 2017, Marine Le Pen, convocou seu país à também iniciar o processo de separação. “Como peço há anos, agora é necessário o mesmo referendo na França e nos países da União Europeia”, afirmou em sua conta nas redes sociais.
O sentimento de Le Pen foi compartilhado pelo chefe do Partido da Liberdade e membro do Parlamento Holandês, Geert Wilders, que afirmou no Twitter: “Agora é a nossa vez! Hora de um referendo holandês! #ByeByeEU”.
Apesar desse entusiasmo de certos políticos, o desligamento inglês não será nada fácil. Um dos motivos é a legislação que a União Europeia possui. Segundo o tratado da UE, os países que se tornam membros devem aderir a diversas leis internacionais. Fora do bloco, esses decretos perdem a validade, deixando brechas na legislação inglesa.
Outro fator que deve ser considerado é o pagamento de uma multa pela saída do bloco. Especula-se que o montante seja bem alto, algo em torno de 60 bilhões de euros. Valor esse que, no momento, o Reino Unido não estaria disposto (ou em condições) de pagar.
Mais um elemento importante é com relação à circulação de pessoas pelo continente europeu. Muitos indivíduos da UE vivem na Inglaterra e muitos ingleses também habitam outros países do bloco. Na antiga lei, apenas a identidades de nascimento seria suficiente para garantir a essas pessoas estadia livre em tais nações. Com a consequente saída do RU, esse processo deve ser gravemente impactado.
Ainda que o pleito pela saída da Grã-Bretanha tenha vencido com mais de um milhão de votos, diversos países que compõem o Reino Unido já se demonstraram insatisfeitos com o resultado da eleição. É o caso da Escócia e da Irlanda do Norte, que já ameaçaram se desligar do RU para permanecerem como membros da União Europeia. A primeira-ministra da Escócia, Nicola Sturgeon, já manifestou seu interesse em convocar uma votação em 2019 para separar o país do resto da Bretanha. Pesa para que essa decisão seja acatada a grande margem dos escoceses que votou contra o Brexit.
A resposta para essa pergunta é: não se sabe. Por conta das questões burocráticas que ainda rondam o processo de saída do Reino Unido, projeções econômicas, até momento, não são muito claras.