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Hillary vence Trump e sai por cima no segundo debate pela Presidência dos EUA

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Entenda melhor como funcionam as eleições no país.

Por Catherine Paixão e Flávia Simão

No último domingo (09), ocorreu o segundo debate entre os candidatos à Presidência da República dos Estados Unidos da América, Hillary Clinton e Donald Trump, organizado pela emissora CNN. Segundo pesquisa elaborada pela empresa Ipsos e pela Agência Reuters, entre 1.928 adultos americanos, publicada no site da EFE, Hillary tem o apoio de 42% dos estadunidenses, enquanto Trump conta apenas com 36% de suporte.

E no segundo debate protagonizado pelos possíveis futuros gestores dos EUA, as conclusões também não surpreenderam tanto. De acordo com a pesquisa realizada pela CNN/ORC, 57% dos telespectadores consideraram que Hillary se saiu melhor ao debater com o seu adversário, ao contrário de 34% dos entrevistados, que preferiram Trump. 

Segundo os estadunidenses, mesmo Hillary vencendo o segundo debate, a candidata não foi tão bem quanto no primeiro, e Trump acabou surpreendendo. No entanto, um fator que permaneceu o mesmo foi o clima de tensão que pairava no ar. Logo no início, os candidatos não se cumprimentaram ao subirem no palco e, ao longo da noite, foram muitas hostilidades e enfrentamentos partindo dos dois lados. 

Hillary e Trump apresentaram suas propostas: falaram sobre o sistema de saúde que pretendem seguir, sobre os imigrantes e os impostos no país. E outros assuntos que não estão relacionados com a política também estiveram presentes no debate, como as frases ofensivas de Trump às mulheres, aos afrodescendentes e aos latino-americanos, a polêmica protagonizada por Hillary sobre usar um servidor particular para acessar seu próprio e-mail enquanto exercia o cargo de Secretária de Estado e os supostos assédios por parte de Bill Clinton à quatro mulheres, que também estavam na plateia. 

A eleição será no dia 8 de novembro de 2016 e o clima segue de tensão na maior nação capitalista do mundo, esperando para escolher seu futuro. Mas as eleições estadunidenses se diferem em grande escala do que no Brasil é considerado o habitual. 

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Para 57% dos estadunidenses, Hillary venceu o segundo debate em busca da Presidência dos Estados Unidos contra Donald Trump. (Crédito: Reuters)

Entenda as eleições nos EUA

No principal país da América do Norte o voto não é obrigatório, então, primeiramente, os candidatos precisam convencer os eleitores a irem votar. E esse processo passa por várias etapas: “As eleições nos EUA seguem fases democráticas desde a promulgação da Constituição, em 1788. O processo eleitoral é conduzido pelos 50 estados, em vários períodos: o das primárias, as convenções nacionais dos partidos políticos e a eleição geral, que ocorre a cada quatro anos”, explica Ivani Vassoler, professora de Ciência Política e Relações Internacionais na State University of New York.

Primárias

Essas se consistem na primeira fase do processo democrático, quando os pré-candidatos disputam nos próprios partidos para decidir qual será o nome que irá concorrer à Presidência da República. Existem dois partidos que dominam a Presidência dos EUA há anos: o Republicano e o Democrata. Vassoler ainda comenta: nessa temporada, o Partido Republicano começou com 17 pré-candidatos, e o Partido Democrata com três.

Os 50 estados americanos podem votar nas prévias primárias, tanto dos Democratas quanto dos Republicanos, e existem três tipos, que dependem do estado e do partido:  Nas “primárias abertas”, os eleitores escolhem seus representantes. Todos podem votar, mesmo sem filiação. No entanto, quem vota nas primárias Democrata não tem direito de votar nas primárias Republicana. Já nas “primárias fechadas”, apenas os filiados aos partidos podem votar e escolher quem será o representante nas eleições para a Presidência. E por último, nas “primárias semifechadas”, quem está registrado em um determinado partido não pode votar no outro. É bem simples: se o eleitor não está registrado em algum partido, pode votar na primária que desejar.

O Partido Republicano conta com 2.470 delegados, e para que um candidato seja considerado escolhido oficialmente, ele precisa ter, no mínimo, um voto a mais que a metade do número total. Ou seja, para Donald Trump conseguir ser o representante do seu partido, ele teve que conseguir o voto de mais da metade das pessoas. Já no Partido Republicano são 4.491 delegados, assim, Hilary teve o apoio de 2.246 ou mais para conseguir ser a candidata oficial.

Após a escolha dos candidatos, estes são oficialmente nomeados na disputa da Presidência na Convenção Nacional do Partido. “Em geral, em cada uma delas, os delegados (que surgiram durante as primárias) acabam confirmando os nomes – agora sim, dois candidatos oficiais (Republicano e Democrata) à presidência”, explica a professora do State University of New York.  E após essa nomeação, os candidatos vão às ruas disputar os eleitores nos diversos estados.

Colégio Eleitoral

Para entender as eleições também é preciso compreender o que é o Colégio Eleitoral. Este consiste no número de delegados que cada estado possui na votação da Eleição Geral. Ao todo, são 538 delegados nos Estados Unidos inteiro. Para vencer, o candidato precisa conseguir ao menos 270 votos do Colégio Eleitoral. Alguns estados possuem mais delegados devido às suas populações, como a Califórnia, que tem 55 e o Texas, que possui 38 delegados.

 

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Alguns estados ganham mais atenção por possuírem mais delegados, como Nova York, 29, Flórida, 29 e Pensilvânia, 20. (Crédito: Creative Commons/Wikipedia)


Processo de votação

Os eleitores do Estados Unidos vão às urnas, sabendo que o voto não é obrigatório. O candidato que vencer no estado leva todos os votos daquele Colégio Eleitoral. Por exemplo, se Hillary Clinton recebe 52% da preferência dos eleitores da Califórnia e Donald Trump 48%, a candidata ganha os 55 votos dos delegados do Colégio Eleitoral da Califórnia e Trump, nenhum. Por isso, vencer em estados com maiores números de delegados e, consequentemente, de população, é essencial.

Mas há um fato incomum que também pode acontecer: “É possível que um presidente tenha a maioria dos votos no colégio eleitoral e a minoria dos populares. Isso aconteceu pela última vez em 2000, quando George W. Bush teve 1 milhão de votos a menos que seu rival Al Gore”, explica Maurício Rocha, Doutor em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro.  Nas eleições em 2000, Busch perdeu no voto popular, já que teve apenas 49,7% dos votos, mas nos Colégios Eleitorais obteve 271 votos, enquanto Al Gore conseguiu 50,3% de votos populares, mas contou apenas com 266 votos dos Colégios.

Isso confirma a explicação de que o candidato eleito é aquele que ganha mais votos do Colégio Eleitoral. E nos Estados Unidos, esse ano, o novo Presidente da República assume o cargo no dia 20 de janeiro de 2017.

Quer saber mais?

https://youtu.be/W9H3gvnN468[/embed

Hillary x Trump

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O empresário ficou conhecido pela participação no programa de televisão “O Aprendiz”. (Crédito: Gage Skidmore/Flickr)

Donald Trump, candidato pelo Partido Republicano, é conhecido por sua performance em vários programas de Reality Shows e pelas diversas frases de efeitos. Ele tem 69 anos e é um empresário bilionário dos Estados Unidos.

Ao longo de sua campanha, Donald Trump focou em temas polêmicos, como imigração, política externa e intervenções militares: “Isso demonstra uma estratégia de campanha menos comum, o que não é uma surpresa já que ele não é político de carreira. Normalmente, políticos que estão correndo atrás na disputa presidencial tendem a ampliar a agenda de campanha e adotar posições menos extremas, na tentativa de alcançar novos eleitores e tentar a vitória”, explica Marco Araújo, Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal Fluminense.

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Campanha de Donald Trump. (Crédito: Creative Commons/Wikipedia)

Trump busca o voto do eleitorado conservador. Exemplos disso são duas de suas propostas mais comentadas: a defesa de medidas mais duras contra imigrantes ilegais e a possível construção de um muro na fronteira entre os Estados Unidos e o México.  

O candidato pode representar uma quebra profunda em relação à política de Barack Obama caso seja eleito e todo o seu discurso agressivo de campanha vire real. “Ele promete deixar de fazer política para governar o país como uma empresa”, explica Cristina Soreanu Pecequilo, Doutora em Ciência Política pela Universidade de São Paulo e professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo.

Como exemplo disso, o candidato acredita que o modelo de saúde pública instaurado por Barack Obama, Obamacare, não funciona e que os sistemas privados devem ser prioritários. Promete revogar o Obamacare – lei que diz que todo americano deve ter plano de saúde – em seu primeiro dia de mandato.  Trump também acredita que a base para melhorar a economia é gerar empregos no país e ameaça punir empresas que qurerem deixar o país. 

Já no que se diz à política externa, Trump reclama que os rivais dos EUA já não sentem mais medo e que, por isso, irá modernizar a indústria nuclear no país e aumentar o contingente sobre o poder militar.  

Outras propostas arriscadas também estão nos planos do candidato, como tirar a responsabilidade total do governo federal pela educação e esta ficar a cargo de cada estado, e também Donald é contra a novas restrições ao porte de arma.

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Hillary concorreu nas prévias democrátas com Barack Obama, em 2008. (Crédito: Iprimages/Flickr)

Já Hillary Clinton se difere em muitos aspectos de seu adversário. Ela é candidata pelo Partido Democrata, tem 68 anos e foi Secretária de Estado e primeira senadora de Nova York. É advogada, formada pela Universidade de Yale e já foi primeira dama do país.

Hillary tem mais popularidade entre o público liberal, defendendo a continuidade no investimento em saúde pública, como Obama: “Caso eleita, a candidata pretende continuar a política do ex-presidente com ênfase no multilateralismo, dando maiores oportunidades às minorias e um incremento bastante forte aos direitos das mulheres, como licença maternidade remunerada e auxílio doença, que não existem nos Estados Unidos”, conta Renata de Melo, Doutora em Antropologia da América Latina e Caribe pela Universidade de Brasília e coordenadora do curso de Relações Internacionais do Centro Universitário de Brasília.

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Campanha de Hillary Clinton. (Crédito:Creative Commons/Wikipedia)

Além disso, a candidata também promete uma maior influência do movimento feminista na formulação da agenda doméstica do país e acredita que cada mulher deve tomar as próprias decisões sobre os seus corpos. Em relação a imigração, grande ponto divergente entre os dois candidatos, Clinton não defende restrições aos imigrantes devido ao grande público eleitor próximo a eles: “Deverá conduzir com a concessão de serviços sociais aos menos favorecidos, expansão do serviço de saúde pública, e atenção às necessidades das minorias, especialmente aos afro-americanos e aos latino-americanos”, explica Vassoler, professora de Ciência Política e Relações Internacionais na State University of New York.

Além disso, a candidata acredita no controle sobre a venda de armas nos Estados Unidos e se diz grande inimiga da NRA – Associação Nacional de Rifles (em tradução livre). Pretende responsabilizar fabricantes por tiroteios e outras tragédias e também acredita que a força militar do Estado deve ser usada apenas em última instância, se utilizando muito de posições diplomáticas para resolver conflitos, mas não deixa de enfatizar que acabará com os grupos terroristas que ameaçam os Estados Unidos. 

Hillary também deseja transformar o país em um grande produtor de energia limpa do século e, com isso, gerar muitos novos empregos na área e entre outras propostas, promete incentivar a educação de qualidade em massa na sociedade, apostando no preparo dos professores e possibilidades para que a população de baixa renda estude, além de garantir que a médio prazo todas as crianças abaixo de quatro anos estejam em pré-escolas. 

E quem é Bernie Sanders?

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Derrotado por Clinton nas primárias do partido Democrata, Sanders declarou apoio à candidata. (Crédito: Phil Roeder/Flickr)

Sanders era o candidato do Partido Democrata com um discurso considerado de “esquerda”, e dialogava sobre anti-governo, anti-sistema, pregando ainda uma agenda pública não corrupta, com acesso a todos os bens e serviços. Com 74 anos e ex-senador dos Estados Unidos pelo estado de Vermont, o candidato chegou a ser uma ameaça à Hillary Clinton, no entanto, não foi escolhido para representar o partido.

Mas há de se ressaltar que o fato de Sanders se auto-declarar socialista e ter grande popularidade entre os jovens é muito importante e significativo para a comunidade estadunidense, já que o país é o maior ícone do capitalismo na esfera mundial: “A visibilidade de Sanders nesse processo eleitoral chama a atenção dos americanos para os problemas sociais do país – as desigualdades, os baixos salários, a falta de um sistema universal de saúde e a realidade de que os mais pobres não têm acesso às universidades por conta dos custos”, conta a professora da State New York University.

Segundo a pesquisa feita pelo Pew Research Center, 85% dos eleitores de Sanders têm a intenção de votar na candidata Democrata, por isso Hillary precisa abordar alguns temas principais defendidos por candidato, já que esses votos são essenciais para ela ganhar de Donald Trump nas Eleições Gerais.

Consequências para o Brasil

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Barack Obama e Dilma Rousseff na visita em que o Presidente dos EUA fez ao Brasil. (Crédito: Senado Federal).

Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil e um de seus interlocutores diplomáticos mais importantes. As eleições americanas são cruciais para o nosso país, sobretudo se apontarem para as possibilidades de mudanças significativas e conservadoras, com a eventual vitória de Donald Trump.

Caso Hillary ganhe, as relações já estabelecidas devem permanecer as mesmas: o Brasil só será acionado caso haja interesse estadunidense. Já Trump pode ter interesses maiores no Brasil e na América Latina: “Isso pode gerar mais empregos e renda, mas este incremento na economia vem também acompanhado com outra agenda de diminuição de direitos trabalhistas, sob a alegação de que tantos direitos supostamente não deixariam a economia crescer no ritmo que ele acha que deveria crescer”, conta Renata, a Doutora em Antropologia da América Latina e Caribe pela UNB.

A Doutora Pecequilo, da USP, ainda comenta que “o que pode afetar o Brasil é a performance dos Estados Unidos em termos gerais na economia global. Uma queda econômica depois da recuperação alcançada por Obama é fonte de desequilíbrio amplo para o mundo, como já foi percebido na última crise global. Uma política exterior belicista é negativa para o mundo e para a América Latina”.

Consequências para o Mundo

President Obama at the Welcome Ceremony in Japan

Na foto, Barack Obama, Imperador Akihito e Imperatriz Michiko, em 2014. (Crédito: Creative Commons/Wikipedia)

Atualmente, a política externa estadunidense está focada no Oriente Médio, no norte da África e principalmente na China, um dos parceiros comerciais mais importantes do país. Os Estados Unidos são os responsáveis por grande parte das exportações chinesas, que sustentam a primeira economia do mundo, além de ser um dos principais parceiros econômicos de diversos locais, principalmente da América Latina.

O resultado dessas eleições que ocorrerão em 2016 pode influenciar na própria economia americana, atingindo diretamente a Política Externa com as demais localidades parceiras. Hillary Clinton representa a continuidade da política externa de Obama e Trump significa uma grande incerteza econômica: “Após a posse, porém, é preciso ver o que ambos irão implementar, averiguar se a continuidade mesmo com Clinton ou Trump poderia se ajustar à política já existente”, explica Pecequilo.

Araújo, o Mestre em Ciência Política pela UFF, explica que, normalmente, os republicanos tendem a gastar mais com os militares do que os democratas. Ele ainda acrescenta que a opinião pública nos EUA é dividida sobre até que ponto o país deve investir, por exemplo, no envio de forças especiais para combater o Estado Islâmico ou o Boko Haram, no Oriente Médio.  Com Trump, a política exterior será mais unilateral, sem dar muita importância aos vizinhos, à Europa, à ONU e outras questões tão importantes na atualidade, pois o candidato já deixou claro que os Estados Unidos é o foco e estarão sempre em primeiro lugar, ao contrário de Hillary.

Tensão Racial e Eleições

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Negros têm 3 vezes mais chances de serem mortos pela polícia do que brancos, segundo o Mapping Police Violence. (Crédito: Gerry Lauzon/Flickr)

As tensões raciais nos Estados Unidos estão gerando diversos protestos ao redor da comunidade negra. Segundo o Mapping Police Violence, a polícia matou 230 pessoas negras só em 2016, e esse genocídio fez com que movimentos negros se levantassem pelo país, entre eles o movimento Black Lives Matter, que começou logo após a morte do adolescente Trayvon Martin por um policial, em 2013.

E toda essa tensão racial tem correlação com as eleições: “Os grupos de interesse mais à direita e radicais tentam explorá-la como forma de assustar a população. Trump está utilizando esta tática também para as minorias e os imigrantes”, explica Pecequilo. O candidato tem utilizado discursos preconceituosos e racistas e a tensão racial está presente em vários incidentes violentos em comícios do republicano e em boa parte da fala deste com relação à imigração.

Em contraposição a este fato, os protestos mostram um amplo descontentamento social nos Estados Unidos, e Pecequilo ainda acrescenta que o mais preocupante é que os políticos tradicionais não estão conseguindo lidar com essa situação, que revela os piores preconceitos do país.

Redação

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