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O mito da representatividade no Brasil

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A exclusão social da comunidade LGBT+ na hora de analisar o currículo

Por André Magalhães e Camila Gallate

O Brasil é sede de um dos maiores eventos queer do mundo: segundo os organizadores da parada gay de São Paulo, foram mais de 3 milhões de pessoas, apenas no ano de 2017. A ABLGBT, Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, estimou que existem mais de 18 milhões de brasileiros LGBT – Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros. E em contrapartida o país é conhecido como o que mais mata travestis. Segundo dados do Grupo Gay da Bahia, até o início de maio de 2017, 117 pessoas morreram por causas homofóbicas. Ao longo do ano de 2016, segundo o relatório “Assassinatos de LGBT no Brasil”, realizado pelo mesmo grupo, foram ao todo 343 vítimas fatais.

Entre os estados brasileiros, São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia foram os que apresentaram o maior índice de assassinatos. O estado paulista acumulou 49 vítimas, enquanto o baiano teve 32, e o carioca 30. Dividindo os números pelas cinco regiões do país, a região nordeste foi a que mais registrou mortes, com um total de 109, seguida pela região sudeste, com 100.

O relatório ainda aponta para uma consequência alarmante: a impunidade nesses homicídios. Foram poucos os casos em que foi possível identificar o criminoso e, em sequência, prosseguir com o processo criminal. Em 60 dos 343 casos o autor do delito foi identificado, ou seja, apenas 17% do total. E somente em menos de 10% dessas ocorrências o processo de punição foi aberto. Isso abre um precedente para que crimes contra a população LGBT continuem sendo uma frequência no país.

Restringindo os dados para pessoas trans, o cenário é ainda pior. Das 343 vítimas mencionadas da pesquisa do Grupo Gay da Bahia, 144 são travestis ou transsexuais. Um relatório da ONG Transgender Europe revela que, entre 2008 e 2016, o Brasil teve  900 assassinatos de pessoas trans e gênero-diversas. A quantidade chega a ser mais de três vezes maior do que o segundo país nessa colocação, o México, com 271 mortes. Em números relativos, para cada um milhão de habitantes, há uma média de 4,5 assassinatos registrados. Esses dados transformam o Brasil no país que mais mata pessoas trans e homossexuais no mundo.

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Cruzes em uma bandeira do Orgulho LGBT: Brasil é o país que mais mata homossexuais e transsexuais (Foto: Wikimedia Commons)

Na legislação brasileira, não existem medidas específicas para crimes de LGBTfobia a nível federal. Houve a discussão sobre a PL 122, que visava criminalizar a homofobia, mas o texto foi arquivado em 2015 e, desde então, não surgiu uma outra proposta de lei desse tipo. Em junho, o governador Rodrigo Rollemberg regulamentou a lei 2.615 de 2000, que proíbe qualquer forma de discriminação por causa da orientação sexual no Distrito Federal. A regulamentação, entretanto, foi revogada pela Câmara.

Diante de um contexto em que a população LGBT tem a integridade física ameaçada com frequência em um país com hábitos conservadores, o preconceito contra a comunidade que foge dos padrões de gênero e da heteronormatividade é visto em diferentes camadas da sociedade. Uma delas é no mercado de trabalho, no qual homossexuais e transsexuais tem de derrubar inúmeras barreiras na hora de procurar um emprego. Falta de aceitação no ambiente de trabalho, dificuldade de conseguir cargos de diretoria e preconceito na hora de selecionar candidatos para uma vaga são alguns dos problemas constantes.

De acordo com a ANTRA – Associação Nacional de Travestis e Transexuais, 90% da população Trans é obrigada a procurar a prostituição como renda complementar. E os que conseguem adentrar no mercado de trabalho, sofrem represália: 40% dos profissionais afirma já ter sofrido algum tipo de discriminação, segundo a empresa de consultoria Santo Caos.

Nas entrelinhas do curriculum vitae

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Foto: Wikimedia Commons

Em 2015, a empresa de recrutamento Elancers divulgou uma pesquisa feita com mais de 10000 empregadores de todo o Brasil. Como resultado, 20% delas responderam que não contratariam homossexuais. Dessas, apenas 7% não contratariam “de modo algum”, enquanto 11% alegavam que contratariam com a condição de não ser nenhum cargo de visibilidade, como executivo ou diretor.

A principal razão apontada para a não-contratação de funcionários homossexuais seria a exposição para a empresa, com receio da imagem da companhia ser associada à pessoa. A pesquisa insere uma justificativa de uma das recrutadoras entrevistadas, que teve identidade preservada: “As empresas rejeitam homossexuais para posições de nível hierárquico superior, como diretores, vice-presidentes ou presidentes porque esses cargos representam a organização em eventos públicos e a associação de imagem poderia ser negativa para a companhia”.

Amara Moira é doutora pela Universidade Estadual de Campinas e autora de “E se eu fosse puta?”, blog que deu origem ao livro, em que conta sua experiência dentro da prostituição. Ativista trans, ela explica que o processo discriminatório já começa dentro da universidade, antes mesmo da análise curricular: “Pichações como ‘mulher não é só calçar os sapatos’ e ‘tira os machos dos nossos banheiros’ apareceram na Unicamp e causaram reações dos movimentos LGBT”.

A inclusão trans dentro do ambiente universitário é algo recente: A Universidade Federal do Amapá (Unifap) foi pioneira na adoção da medida que determina o uso do nome social, em 2009. Segundo o Ministério dos Direitos Humanos, é garantido ao aluno o uso do nome social, mas um levantamento realizado em maio de 2017 apontou que 21% da universidades contempladas pelo Enem ainda não tem uma resolução definida quanto a adoção do nome social.

Dentro do mercado de trabalho o reflexo desta falta de inserção social é ainda maior.  A ativista trans Leila Dumaresq comenta o assunto: “Para pessoa trans é muito complicado, você quase não consegue emprego no mercado de trabalho, mesmo com qualificação”. Ela explica que em uma empresa de alta eficiência de engenharia por exemplo, uma pessoa trans pode causar mal estar na equipe. “Se tem uma pessoa preconceituosa, o RH não vai dar isso como motivo pra não te contratar, mas é por isso que não te contrata. Ele não quer lidar com o mal estar na equipe, independente da tua competência”, ressalta.

A grande queixa é que o empregador acaba optando por aquele que é preconceituoso ao invés de quem é discriminado. E a consequência é que uma minoria consegue emprego ou até mesmo o ela chama de “sub-emprego”, levando a população trans ou travesti a procurar a prostituição, não necessariamente como único emprego, mas muitas vezes como complemento de renda: “90% da população, essa é a estimativa, mais de 90% se prostituem. E esse 10% é problema nas equipes” concluiu Leila.

E o mesmo acontece para pessoas cisgêneras homoafetivas, uma pesquisa realizada pela empresa Elancers realizada com 10.000 empregadores, apontou que 20% das companhias brasileiras ainda se recusam a contratar homossexuais. E a justificativa ainda é o preconceito e o medo de associar a empresa à causa.

Dentro do ambiente de trabalho, o funcionário LGBT passa por dificuldades de aceitação. Por isso, para evitar sofrer com a discriminação, muitos acabam escondendo a orientação sexual no seu emprego. Um estudo feito pelo Center For Talent Innovation e lançado em 2016 ouviu mais de 12 mil profissionais em diversos países do mundo. Entre os entrevistados brasileiros, foi constatado que 61% escondem a orientação sexual de colegas de trabalho e gestores.

Entre os países consultados com leis protetoras à população LGBT – Brasil, Africa do Sul, Estados Unidos e Reino Unido -, o Brasil foi o que teve a maior porcentagem nesse quesito. Em comparação, os brasileiros ficaram ligeiramente atrás dos entrevistados da Índia, país em que a homossexualidade é crime e 67% das pessoas afirmam não expor a orientação.A pesquisa ainda revela que, entre os funcionários entrevistados que acobertar a orientação, 39% evitam ou interagem menos com os colegas, enquanto 26% revelaram sentir nervosos ou tristes no ambiente do trabalho.

Novas perspectivas

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Foto: Wikimedia Commons

Aos poucos, a situação da população LGBT no mercado de trabalho começa a caminhar em busca de mudanças. Sem a existência de leis trabalhistas que sejam favoráveis à presença dessas pessoas em ambiente de trabalho, existem outras medidas que estão sendo tomadas e mostram os primeiros passos para maior inclusão. Em 2013, o Instituto Ethos elaborou um manual intitulado “O compromisso das empresas com os Direitos Humanos LGBT – Orientações para o mundo empresarial em ações voltadas a lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais”. O documento explica conceitos e a história do movimento, além de elaborar uma lista com “10 compromissos da empresa com a promoção dos direitos LGBT”. São eles:

  • Comprometer-se – presidência e executivos – com o respeito e a promoção dos direitos LGBT.
  • Promover igualdade de oportunidades e tratamento justo às pessoas LGBT.
  • Promover ambiente respeitoso, seguro e saudável para as pessoas LGBT.
  • Sensibilizar e educar para o respeito aos direitos LGBT.
  • Estimular e apoiar a criação de grupos de afinidade LGBT.
  • Promover o respeito aos direitos LGBT na comunicação e marketing.
  • Promover o respeito aos direitos LGBT no planejamento de produtos, serviços e atendimento aos clientes.
  • Promover ações de desenvolvimento profissional de pessoas do segmento LGBT.
  • Promover o desenvolvimento econômico e social das pessoas LGBT na cadeia de valor.
  • Promover e apoiar ações em prol dos direitos LGBT na comunidade

No ano de 2013 também foi criado o Fórum de Empresas e Direitos LGBT, que define-se como “uma organização informal que reúne grandes empresas em torno do compromisso com o respeito e a promoção dos direitos humanos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais e tem como objetivo influenciar o meio empresarial e a sociedade a respeito desta temática”.

O Fórum criou um manifesto defendendo seus ideais, e já possui 39 empresas signatárias, a maioria dela multinacionais. O manifesto também segue os 10 compromissos listados no manual, e as empresas que o assinaram possuem suas ações monitoradas e registradas.

Algumas grandes empresas já apresentam mudanças em sua equipe e passam a contratar uma equipe mais inclusiva, até mesmo nos cargos de liderança. A Starbucks chegou até a hastear uma bandeira em Seattle em 2014, após receber críticas homofóbicas. A Pepsico também já apoiou a causa LGBT, chegando a até mesmo lançar o seu famoso salgado Doritos nas cores do arco-íris, símbolo do movimento.
Outra empresa que ganha destaque na hora da contratação é a IBM. Em entrevista, Adriana Ferreira, diretora de diversidade e inovação da multinacional no Brasil, explica o processo seletivo: “O que buscamos é construir um espaço em conjunto, oferecendo as mesmas oportunidades a todos. O retorno financeiro, se vier, é apenas uma consequência”, explica.
E as consequências são animadoras: a revista Management Science divulgou uma pesquisa comprovando que empresas com inclusão LGBT apresentam um aumento de 8% nos registros de patentes. O que ajuda no crescimento da companhia:  “Um profissional LGBT pode trazer uma bagagem de vida que ajuda a empresa a analisar problemas por uma outra perspectiva, tomar decisões importantes e principalmente se sentir acolhido e incentivado a criar”, afirmou Jorge Abrahão, diretor-presidente do Instituto Ethos.

Redação

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