Escreva para pesquisar

Suicídio: uma discussão ainda necessária

Compartilhe

Apesar de ainda ser um tabu, o tema possui diversos aspectos importantes a ser abordado

Lenes Moreira, Nilo Vieira e Talita Bombarde

A Organização Mundial da Saúde alerta que a cada 40 segundos uma pessoa se suicida no mundo. No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, todos os dias, 30 pessoas cometem suicídio. Mesmo assim, o tema é tratado apenas pelos aspectos mentais e psicológicos, quando questões culturais, sociais e morais são influenciadores na decisão de tirar a própria vida. A psicóloga Kaira Moraes Porto reforça a importância de ampliar a visão acerca das causas do suicídio: “Entendo que ao reduzirmos os transtornos mentais ou o suicídio a fenômenos de causa orgânica ou psíquica individual, deixamos de buscar causas mais profundas e gerais que se expressam nesses fenômenos, como as relações sociais existentes em uma dada sociedade e em um dado momento histórico e como estas formam os seres humanos singulares”.

logo

O suicídio tem como causa não só os transtornos mentais, como é influenciado pelas questões culturais e sociais. (Foto: www.setembroamarelo.org.br).

Assim, pode-se afirmar que os caminhos que levam ao suicídio estão diretamente relacionados aos aspectos culturais de cada país. No Japão, desde a época do feudalismo, existe o costume de suicidar-se por honra: o “ritual” é conhecido como haraquiri ou seppuku. Hoje um dos principais motivos dos japoneses cometerem suicídio é a cobrança social pela perfeição – em 2012, foram registrados 29 mil suicídios no país. Kaira elucida como as questões culturais interferem nesse ato: “essas questões são fundamentais para avançarmos na compreensão do suicídio, para entendermos o processo de produção de sofrimento psíquico dos indivíduos, quanto para entendermos as formas que se apresentam como possibilidades para identificar e compreender o sofrimento e, inclusive, cuidar de si”.

Nos países nórdicos, que possuem os maiores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH), as taxas de suicídios também são elevadas. Em 2011, foram registrados 16,3 casos de suicídios por 100 mil habitantes na Finlândia e 15,4 na Suécia. Duas razões podem ser apontadas para explicar esse fenômeno: a falta de luz solar, que nas regiões mais perto do ártico pode ser de oito meses, e a falta de ambição na vida, como mostra o estudo Dark Contrasts: The Paradox of High Rates of Suicide in Happy Place. Possuindo todos os requisitos básicos para viver, essas populações não enxergam propósitos na vida.


 

De acordo com a OMS, em 2012, 75% dos suicídios ocorrem em países de baixa e média renda. Nesse caso, o motivo é o oposto dos países nórdicos: a falta de recursos financeiros e expectativa de vida, fazem com que as pessoas recorram a esse recurso. O mesmo órgão aponta a Índia como o país com maior taxa de suicídio naquele ano, com 258 mil mortes. Mesmo com o PIB em crescimento, a divisão do país em castas permite que a desigualdade social seja grande.

No Brasil, o suicídio é a 4° principal motivo de morte da população de 15 a 29 anos. Entre 2011 e 2016 foram notificadas 176.226 casos de lesões autoprovocadas. Além das questões econômicas, fatores culturais podem ser catalizadores para a tomada de decisão. A antropóloga Ondina Fachel Leal, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e autora do estudo “Suicídio, Honra e Masculinidade na Cultura Gaúcha”, desenvolveu a tese que os gaúchos tiram a própria vida para conservar a honra e a masculinidade.


 

A questão de padrões de gênero também é influência preponderante em mulheres. O psicólogo James Kaufman cunhou, em 2001, a teoria do “Efeito Sylvia Plath”, que afirma que poetisas estão mais sujeitas à doenças psíquicas do que outros profissionais que trabalham com processo criativo. Segundo Moraes: “alguns estudos nos apontam a necessidade de compreendermos o que é ser mulher na nossa sociedade e às formas de violência que estamos expostas cotidianamente. Os dados expressivos de tentativas de suicídio entre as mulheres podem estar relacionados aos padrões e papéis impostos à mulher e à violência, em suas diferentes formas de expressão e concretização.“ Ela relembra que o fator gênero se manifesta até mesmo nos meios de tirar a própria vida: homens geralmente optam por métodos mais violentos e letais. Do outro lado, um estudo recente da socióloga brasileira Dayse Miranda mostra que mulheres tentam o suicídio mais vezes que eles; mas além de formas mais facilmente reversíveis, como envenenamento  manifestam sinais de modo mais explícito e também procuram mais por ajuda profissional.


 

Nessa edição serão abordados  os tabus que cercam o suicídio; como a mídia, rede sociais e produtos audiovisuais retratam o tema, como é a questão em grupos de riscos, tratamentos e alternativas para além do remédio e  a necessidade de políticas públicas voltadas ao setor, além do papel da indústria farmacêutica no tratamento e prevenção do suicídio. Contribuiu para essa edição especial o professor doutor Érico Bruno Viana Campos, do Departamento de Psicologia da Unesp de Bauru.  Saiba mais no blog  de Jornalismo Especializado.

Tags::
Redação

Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit. Nam quis venenatis ligula, a venenatis ex. In ut ante vel eros rhoncus sollicitudin. Quisque tristique odio ipsum, id accumsan nisi faucibus at. Suspendisse fermentum, felis sed suscipit aliquet, quam massa aliquam nibh, vitae cursus magna metus a odio. Vestibulum convallis cursus leo, non dictum ipsum condimentum et. Duis rutrum felis nec faucibus feugiat. Nam dapibus quam magna, vel blandit purus dapibus in. Donec consequat eleifend porta. Etiam suscipit dolor non leo ullamcorper elementum. Orci varius natoque penatibus et magnis dis parturient montes, nascetur ridiculus mus. Mauris imperdiet arcu lacus, sit amet congue enim finibus eu. Morbi pharetra sodales maximus. Integer vitae risus vitae arcu mattis varius. Pellentesque massa nisl, blandit non leo eu, molestie auctor sapien.

    1

Você pode gostar também

Deixe um comentário

Your email address will not be published. Required fields are marked *